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Em Londres, na Taberna do Mercado de Nuno Mendes

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Como tem sido hábito, nos últimos anos, por alturas da cerimónia do The World's 50 Best Restaurants (que desta vez se realiza a 1 de Junho), cheguei uns dias mais cedo a Londres para conhecer o que de novo (e menos novo) há na cidade.

 

Este ano, uma das novidades está relacionada com Portugal. Refiro-me ao novo restaurante de Nuno Mendes, Taberna do Mercado, aberto recentemente no Spitalfields Market, em Shoreditch (na zona Leste de Londres). Nuno Mendes saiu de Portugal muito cedo e nunca chegou a trabalhar no país. Por isso, tendo vivido em diversas partes do mundo, era natural que ao longo dos seus vários projectos (Bacchus, The Loft, Viajante, Corner Room e Chiltern Firehouse -  onde ainda se mantém) a sua cozinha reflectisse todo o seu percurso, no qual a sua costela portuguesa era apenas uma parte das influências.

 

Contudo, nos últimos anos, o chef português começou a aproximar-se mais das suas raízes lusas e procurava, já há algum tempo, um espaço para abrir um restaurante português informal, uma oportunidade que surgiu agora - e com sucesso instantâneo, aver pelas filas à porta, pelo menos, aos fins de semana. 

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Pode parecer estranho voar de Lisboa para Londres e ter a primeira refeição num restaurante com mesas de madeira e tampos de mármore de Estremoz, pratos Vista Alegre, vinhos portugueses, Água das Pedras e imperial Super Bock. Contudo, todas as experiências que tive anteriormente em restaurantes de Nuno Mendes me surpreenderam, pelo que estava expectante em conhecer o seu novo projecto, que conta com vários colaboradores portugueses que já tinham trabalhado com ele, entre eles António Galapito, o jovem chefe executivo do restaurante, que vem desde os tempos do Bacchus. 

 

A experiência na Taberna do Mercado não poderia ter corrido melhor. Experimentei 6 dos 8 (pequenos) pratos, 2 dos 3 snacks, uma das conservas feitas na casa e 3 das 4 sobremesas. Com excepção do espadarte algarvio e da tigelada (sobremesa), que não me convenceram, as restantes propostas variaram entre o muito bom e o francamente bom. Se não vejamos...

 

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Óptimos, os rissóis de camarão: de massa ligeiramente crocante, bem fritos e recheio de sabor assertivo - tal como no arroz caldoso de polvo (na última imagem). Adorei os "runner bean fritters", uns peixinhos da horta a  remeter para o Japão  - tanto na polme como na ideia de os acompanhar com um caldo, neste caso um original caldo à bulhão. Muito boa, a conserva de cavala feita na casa, acompanhada de um saboroso sofrito e de uns pickles igualmente caseiros, a dar um "kick" ao conjunto. 

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Incrível e original o prato de endívias com lâminas de pêra, amêndoas e uma surpreendente massa de pimentão, com um toque fumado. Quase um kimchi à portuguesa

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Migas com espargos, funcho e alho selvagem. Migas gulosas e azeitadas, mas nada enjoativas, até porque os vegetais, apenas ligeiramente cozinhados, davam a crocância e o corte necessário ao conjunto. Ao lado, o espadarte algarvio, que me pareceu um pouco insípido, e, abaixo, dois dos melhores pratos do almoço: choco com pezinhos de coentrada, uma óptima ligação ainda para mais cozinhada de forma sublime. Os pezinhos... ui, de estalo! E o que dizer do tártaro de porco bísaro? imaginem uma carne de primeira ligeiramente braseada, com pedaços crus e outros "caramelizados", tudo sob o escrutínio de um elegante caldo do cozido... será preciso acrescentar alguma coisa? 

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Passei a minha infância e parte da adolescência a comer pão-de-ló molhado. Contudo, como este, devo ter saboreado poucos - gostei do tempero com um fio de azeite e flor de sal. O Abade de Priscos (foto abaixo) foi outra aposta ganha. Porção pequena - para não matar os "bifes" com overdoses de ovos e açucar - a banhos numa calda ligeira de vinho do porto e canela. O António Galapito falou-me que num destes dias fizeram umas bolas de berlim, cujo recheio era de creme das aparas do abade de priscos, a que juntavam um pouco de presunto. Fazem entregas em Lisboa? 

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A Taberna do Mercado honra e acrescenta valor à cozinha portuguesa. É fiel aos seus princípios, sem se fechar nela. É urbana, zero pretensiosa e diferente -  com a marca de Nuno Mendes, claro. É, sem dúvida, um lugar com bom gosto, ambiente descontraído e informal, e, nesse sentido, é um belo cartão de visita de um Portugal de hoje. Não me importava (mesmo) nada de ter uma réplica em  Lisboa. 

 

Contactos: Taberna do Mercado: Old Spitalfields Market, 107B Commercial St, London E1 6BG; Almoço:  12h - 14.30h; 18h-21.30h. Entre as 15h/18h servem apenas bebidas, enchidos, queijos e snacks frios. Aos domingos o almoço prolonga-se até às 17h. Em breve estará igualmente aberto a partir das 8h com pequeno almoço português ; reservas apenas ao almoço ( lunch@tabernamercado.co.uk).

 

Mesa Marcada em Londres com o apoio da TAP

 


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