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No Bairro do Avillez - as primeiras impressões, o que comer, a concorrência

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Abriu ontem oficialmente um dos projectos mais esperados do momento, o Bairro do Avillez, em Lisboa. Digo oficialmente porque já há uns dias que o mega espaço de José Avillez abriu discretamente ao público depois de semanas de testes com convidados - entre eles a imprensa.

 

Era suposto ser um soft opening, ou seja, uma abertura sem divulgação para não causar enchentes num período ainda considerado de afinação. Porém, pelo que vi ontem, de soft não houve nada, pelo menos à noite, quando o espaço esteve a abarrotar, com direito, inclusive, às primeiras filas de espera.

 

Mas comecemos pelo projecto. O Bairro do Avillez é o 7º projecto de restauração do conhecido chefe português e de longe o mais ambicioso em termos de dimensão. O espaço ocupa parte de um antigo edifício do Convento da Trindade e está dividido em duas áreas principais: de um lado temos a Taberna, a Charcutaria (numa parceria com a Manteigaria Silva) e a Mercearia (com gourmandises e merchandising) e do outro o Páteo, que além do piso térreo tem um primeiro andar que para já me pareceu  fechado e que terá uma vertente para pequenos grupos. Há ainda uma outra área mais pequena e ainda fechada desse lado, que será mais tarde um espaço de cozinha de autor com um posicionamento entre o Minibar e o Belcanto.

 

Até agora tem-se falado sobretudo da transformação do lugar, sob orientação de Avillez, num bairro lisboeta contemporâneo com memória tendo-se destacado a arquitectura desenvolvida pelo atelier Anahory Almeida e das intervenções artísticas de Joana Astolfi, da Caulino Ceramics, e o painel de azulejos da fábrica Viúva Lamego. Porém, e o que se come por lá?

 

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José Avillez com os seus parceiros da Manteigaria Silva 

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Vista geral da Taberna, com a cozinha e o painel da fábrica Viúva Lamego ao fundo 

 

A experiência à mesa

 

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A cozinha principal do Bairro do Avillez 

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 O Páteo, visto do andar de cima

Attachment-1-2.jpegAlgumas das propostas da carta do Páteo

 

O Bairro do Avillez dispõe de cerca de 300 lugares, e aqui trabalham 78 empregados, entre sala, cozinha e pontos de venda. No Páteo, onde é possível reservar mesa, o menu varia entre a vertente de cervejaria/marisqueira – com mariscos, bifes –, carta de saladas e peixes. As confecção pareceram-me mais ou menos clássicas com um twist de autor aqui e ali (não servem peixes inteiros, por exemplo).

 

Já a Taberna (por onde se entra), funciona por ordem de chegada, ou seja: sem marcação. Deste lado, reinam os petiscos e doses pequenas, que convidam à partilha - há que pedir várias, porque como é hábito com Avillez, as suas doses nunca são fartas. Foi deste lado que tive oportunidade de experimentar uma boa parte das propostas da duas vezes em que lá estive. A primeira, há duas semanas, a convite e, ontem, como um cliente normal. Houve algumas diferenças na experiência, como é natural. Ontem, fui com mais 6 pessoas e a casa estava cheia. Já na primeira vez, éramos apenas dois e o ambiente estava bem mais calmo. Ainda assim, ontem, tirando um ou outro desacerto “a máquina” respondeu muito bem à enchente – o que não surpreende, sobretudo, para quem conhece a gestão e organização de outros cantinhos.

 

Como acontece nos restaurantes de Avillez, todos as propostas foram criadas especialmente para este lugar. Aliás, o chefe do Chiado parece ter tanto prazer em definir conceitos, como a definir um receituário. A sua marca na Taberna reconhece-se em cada prato e abundam as novidades, ainda que existam variações já conhecidas de receitas de outros dos seus espaços. Entre as novidades alguma constituem  uma visão particular de tendências actuais (de cá ou lá de fora), outras, de petiscos lisboetas e portugueses, e outras ainda, uma mistura dos dois.

 

Achei muito bem conseguidas criações como o ceviche de tremoços (em dose mini), a saladinha de orelha de morcego (uma recriação da salada de orelha de porco com as populares algas chinesas a fazer a vez da cartilagem do suíno) e a “alfacinha de bacalhau”, uma espécie de hot dog do fiel amigo (versão nuggets do Minibar) com alface crocante em vez de pão. Gostei muito, ainda, das pipocas de coiratos picantes (que serão do agrado mesmo de quem não gosta de coiratos, nem de pipocas), da sanduíche (em bolo do caco) de leitão com pickles de algas e salicórnia e dos pezinhos de porco de coentrada e hortelã. Bom, também, o vitelão em duas cozeduras com creme de batata e mostarda e o polvo (tipo à galega) com alho e molho de kimchi, as plumas de porco alentejano (com farofa) e os espargos e cogumelos na brasa com beringela fumada. Dos acompanhamentos, além das batatas fritas, achei piada (sem serem fantásticos) aos milhos fritos com queijo de São Jorge. Já a salada de coração de alface grelhada com pêra e vinagreta estava um pouco desenxabida. Também esperava mais do “efeito Josper”. É verdade que a moda destes fornos a lenha leva a que por vezes se cometam excessos no fumado. Porém, neste caso, quase nem dei pela sua existência.

 

Attachment-1.jpegOs talheres e alguns dos petiscos da Taberna: ceviche de tremoços, pipocas de coiratos e cornetto de carapau picante (foto: Miguel Pires)

 

FullSizeRender-5.jpgpezinhos de porco de coentrada (foto: Miguel Pires)

 

FullSizeRender-4.jpg saladinha de "orelha de morcego" já meio comida (foto: Miguel Pires)

FullSizeRender-3.jpgsanduíche de leitão com pickles e salicórnia em bolo do caco (foto: Miguel Pires)

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alfacinha de bacalhau crocante(foto: Miguel Pires)

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polvo (tipo à galega) com alho e molho de kimchi

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pastel de nata com bica de gelado de café (foto: Miguel Pires)

 

Na parte doceira, que em geral sempre considerei uns furos abaixo da vertente salgada de Avillez, achei feliz o óptimo pastel de nata servido com uma bica de gelado de café e elegante o pudim de azeite e mel (ideal para quem quer um doce tradicional português sem ser excessivamente doce). Já o salame de chocolate, o sorvete de amarguinha e o caramelo salgado (uma variação do conhecido avelã ao cubo - um best seller do Cantinho) cumprem, mas não deslumbram.

 

Em relação às bebidas, confesso que não prestei atenção a este capítulo. Quando cheguei já alguém na mesa bebia um JA Rosé - da linha de vinhos agradáveis e frescos que a Quinta do Monte d’Oiro produz para a casa – e eu acabei por optar pela Czech Golden Lagger e Bengal Amber IPA, as duas cervejas especiais da Super Bock, com quem fizemos recentemente uma acção (como devem estar recordados) e que aqui estão disponíveis à pressão.

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A intervenção da Caulino Ceramics no tecto da Taberna (foto: Miguel Pires)

 

Em suma, o Bairro do Avillez tem todos os argumentos para ser um sucesso. Resta saber que repercussão terá na concorrência. Nos primeiros meses, creio que os outros estabelecimentos da Rua da Trindade sairão beneficiados, pois serão uma alternativa a quem não quiser ficar na fila. Já uma centena de metros abaixo, o Palácio do Chiado poderá ser um dos afectados (muito mais do que o Mercado da Ribeira), tal como os restaurantes do próprio Avillez, (sobretudo o Café Lisboa, a pizzaria e o Cantinho). Porém, como dizem os especialistas de marketing, mais vale canibalizar-se do que ser engolido pelos outros. Porém, posteriormente, o mais provável é que os fluxos voltem ao normal. Até porque o período de alta no turismo em Lisboa, parece estar para ficar.

 

Contactos: Rua Nova da Trindade, 18 (Chiado), Lisboa. Telefone: 21 583 0290. Horário: diariamente das 12h às 00h; Preço Médio: 30€ (Taberna - não aceitam reservas), 40€ (Páteo - aceitam reservas)

 

Fotos: Paulo Barata (excepto as assinaladas)


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