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Vinagre de Vinho do Porto. Ainda faz sentido proibir a menção?

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Quinta de la Rosa Garrafas Azeite e Vinagre.jpgÀ partida tratava-se de mais um comunicado de imprensa como tantos outros que chegam diariamente por email. A Quinta de La Rosa é um produtor cujos vinhos aprecio e, por isso, havia uma razão suficiente para abrir a mensagem. Porém, o que me chamou à atenção não foi o facto da empresa estar a lançar um azeite onde se destacam duas variedades de azeitona menos comuns nos nossos azeites de topo, a carrasquinha e a negrinha, mas sim, o seu par de galheteiro lançado em simultâneo: um vinagre de vinho do Porto "com mais de 30 anos de maturação, descoberto pelo enólogo Jorge Moreira". Vinagre de quê, de vinho do Porto? 

 

Há anos que oiço falar de produtores que fazem vinagre, para consumo próprio, a partir do nosso vinho mais nobre (o mesmo acontecendo com um outro não menos nobre, o Madeira). Inclusive algumas destas garrafas circulam discretamente por mãos amigas e todos falam de um produto extraordinário. O secretismo ou discrição tem uma razão. É que, ao contrário de outras regiões de prestigio, como Champanhe ou Jerez, que autorizam a sua produção, o IVDP proíbe a comercialização de um vinagre com a denominação ‘Porto’. Segundo Alexandra Prado Coelho num artigo sobre o vinagres que escreveu em Novembro, no Público Fugas, o referido instituto "não esclarece as razões que sustentam esta decisão", referindo apenas que "a designação 'Porto' é autorizada apenas nos vinhos licorosos provenientes daquela região e certificados pelo IVDP".

 

Portanto, pode haver vinagre de Champanhe ou de Jerez, mas não de Porto. Talvez a regra esteja obsoleta, não? O que será pior para a imagem do generoso duriense, um bom vinagre feito com ele ou um vinho com rótulo de "marca branca" vendido ao desbarato no supermercados de hard discount, ou ainda, saber-se que uma boa parte do vinho do Porto que vai para França (e não só) tem por destino a cozinha? 

 

Porém, se tal denominação é proibida como é que Quinta de La Rosa o está a comercializar (na loja da quinta e para Inglaterra)? 

 

Atente-se ao pormenor do rótulo na imagem que ilustra este post. Diz apenas "vinagre de vinho". Não deveria ser assim. Arrisco dizer, mesmo sem ter provado este vinagre,  que a probabilidade de estarmos perante um produto de excelência é grande, pelo que no rótulo deveria mesmo ser permitido que o produtor escrevesse "Vinagre de Vinho do Porto" e que, algures na garrafa, constasse igualmente a indicação, "com mais de 30 anos". Como fã de bons vinagres vou querer experimentá-lo, claro. Nem que tenha de o mandar vir de Inglaterra. Ah! e vou escrevinhar no rótulo: "de Vinho do Porto".

 


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