Adoramos dizer que é nelas que se come bem, comida patriótica e “honesta” (seja lá o que isso for), a preços miraculosos, doses generosas que dão para “dois ou três”, empregados castiços que já são amigos, cozinheiras que já são pessoas de família, onde se perdoam toalhas e guardanapos de papel, travessas de inox, copos (no mínimo) inadequados, talheres idem, iluminações desastrosas, ruídos, desconforto, alumínios, publicidade invasiva de gelados e refrigerantes. Mas a verdade é que todos parecem ter a sua tasca favorita, todos fazem periodicamente descobertas fantásticas, todos se sentem em casa nelas.
Este retrato caricatural e injusto serve para apresentar a primeira obra de Tiago Pais, um dos nossos melhores jornalistas na área da gastronomia, com um estilo muito próprio que dispensa “press releases”, assinando actualmente óptimos artigos sobre restaurantes no Observador, depois de ter passado seis anos na Time Out. Ele andou um ano a pesquisar tascas lisboetas, ou seja, a comer nelas, seleccionou cinco dezenas, concedeu “Palitos d’Ouro” às suas sete preferidas, e escreveu pequenos textos sobre cada uma das 50 , destacando pratos do dia e especialidades, incluindo moradas e horários e ainda um mapa destacável com a localização das eleitas. Tudo ajudado por belas fotografias de Gonçalo F. Santos e grafismo de Luís Levy Lima, numa edição da Zest.
Nasceu assim o guia“As 50 Melhores Tascas de Lisboa”, que será lançado às 18h desta quarta-feira no Zé da Mouraria (Rua João do Outeiro, 24), uma das tascas que conquistou o Palito d’Ouro. Eu sei quais foram as outras seis, mas não digo, quem quiser que compre o guia, O qual, aliás, é baratíssimo para a informação que oferece, capaz de proporcionar grandes poupanças nos capítulos da alimentação e do entretenimento, custando apenas 11 euros. Trata-se portanto de obra muito útil, que aliás terá em breve edição em inglês, já que os turistas que visitam a cidade parecem ainda mais atraídos pelas tascas do que nós. Sendo eu bastante ignorante na matéria desde os meus 20 anos (onde eles já vão…) não deixarei de recorrer a esta orientação de alguém a quem, como Tiago Pais afirma corajosamente na apresentação da sua obra, “nada dá mais prazer do que entrar numa casa simples, com azulejos gastos e copos baços, pedir o prato do dia e acabar a roer os ossos, lamber os dedos e a molhar o pão, não necessariamente por esta ordem".