Dominique Le Stanc (à direita) era chef de um restaurante com duas estrelas Michelin, em Nice (França), quando decidiu mandar tudo às malvas, comprar um antigo e pequeno restaurante da cidade, o #LaMerenda, e seguir confeccionando uma cozinha francesa, local, de bistrot. Ele na cozinha (com um unico luxo do passado estrelado, um 'piano' da Molteni), a mulher e um empregado na sala ali andam felizes com os pratos fantásticos - uns mais do que outros, como em tudo - que servem aos 24 clientes (de cada vez) que cabem, quase ao colo uns dos outros, nas 12 mesas do lugar.
Ao lado de Dominique (além da sua mulher) está Mauro e Julia Colagreco, que me apresentaram o casal Le Stanc. Mauro tem o 2 estrelas Michelin Mirazur perto dali, em Menton, que é só o nº11 e melhor restaurante francês da lista do #World50Best. Ontem, o seu filho Valentin fazia 2 anos e ele conseguiu estar com a família, passar pela horta da sua casa (duas ruas acima do restaurante) e comandar ainda o serviço da noite, onde deu 60 jantares (quase todos a menu de degustação). As suas palavras de ordem faziam-se ouvir no bar, junto da cozinha (onde jantei) e todas recebiam de volta um ainda mais vigoroso "oui chef". No final do serviço o cansaço era visível na cara de todos, mas notava-se uma certa leveza no ar, sobretudo, na expressão de Mauro.
Moral da história: desistir da pressão das estrelas para ser-se feliz com uma cozinha terra a terra não tem mais (nem menos) valor do que aqueles que, como Mauro, seguem com satisfação o árduo caminho do topo. Os dois amigos admiram-se, sem invejas ou ressentimentos. Talvez porque ambos têm a 'sorte' de poderem fazer o que gostam.
Texto e foto publicados originalmente no meu Instagram (@migpires)