Tem gerado polémica um pouco por todo lado (leia-se redes sociais e afins) o caso do pastel de bacalhau com Queijo da Serra vendido numa nova loja da Baixa de Lisboa. O testemunho mais recente contra a invenção é de Maria de Lourdes Modesto e chegou-me via O Observador. É claro, com a voz o protesto de uma das maiores personalidades da gastronomia portuguesa, o caso acaba por se propagar de forma mais rápida e com um efeito mais sonante.
"Em defesa do Pastel de bacalhau e do queijo Serra da Estrela
Levantei os olhos, e deparo com uma verdadeira obscenidade no ecrã do meu televisor: um pastel de bacalhau a esvair-se em queijo Serra da Estrela. Não pode vir mais a propósito a expressão: “com uma cajadada matar dois coelhos”. Duas das mais queridas e conseguidas especificidades da nossa gastronomia, numa pornográfica e ridícula figura! Julgo que vi, e foi-me confirmado, que a ideia seria do Turismo de Portugal. Chamar a atenção para o nosso recatado País com aquela obscena imagem, parece-me obra do diabo, quiçá, do Estado Islâmico.
O queijo Serra da Estrela já está habituado a estas diabruras, o que me leva a pensar que, pessoas com responsabilidades, nunca o conheceram na sua pujança: maduro e cortado à fatia; mas o inocente pastel de bacalhau, Senhores !Porquê?
Não desconheço que as autoridades, por desespero da população, estão muito preocupadas com os toldos que abrigam a referida aberração, mas… e na Cultura, não há ninguém com papilas saudáveis, bom gosto e que saiba que o pastel de bacalhau é uma das jóias mais perfeitas e mais queridas da nossa gastronomia popular? Não foi a nossa gastronomia elevada a Património Cultural? "
Oportuno como este manifesto é igualmente a questão levantada por André Magalhães no Facebook. Diz o responsável da Taberna da Rua das Flores: "Em Portugal vender gato por lebre é considerado fraude económica. Um Pastel de Bacalhau com Queijo da Serra tem que ter mesmo Bacalhau (gadus morhua) e Queijo da Serra certificado. Mesmo a 3.45€ a unidade tenho dúvidas quanto à genuinidade dos ingredientes..."
Igualmente tão chocante quanto achincalharem o património gastronómico nacional (cujo exemplo não é filho único - olhem o pastel de nata de kiwi ou a alheira de bacalhau) é o embuste do nome e de toda a estética adoptada para parecer que se trata de um produto e de uma casa com muita tradição, tipo Confeitaria Nacional. É mesmo caso para dizer, como termina Maria de Lourdes Modesto no seu texto, "Ninguém com poder toma conta “disto”?”
Foto: Cristina Gomes (facebook)