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Tapas para ler e comer com os olhos

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Dá pelo nome de Tapas mas não é de comer. Ou melhor, é de comer mas com os olhos. Refiro-me à mais recente revista de gastronomia acabada de sair em Espanha. Tem (aquele) aroma a papel e tinta e 200 páginas recheadas de bom gosto: o nome, a capa, a impressão, o grafismo, a variedade de textos (de 'curtas' aos de maior fôlego), a originalidade de certos temas, as imagens (fotos e ilustrações) e até a publicidade.

 

Neste número 1 acabadinho de sair e amplamente divulgado (pelo menos nos escaparates dos press centers do aeroporto de Madrid) não há a divisão por secções, tipo, novidades, entrevista, reportagem, critica, prova, etc. Os assuntos são divididos como se de um restaurante se tratasse: em 'snacks', temos as 'curtas', em 'Starters', os primeiros temas, nos 'Mains', os temas mais profundos, ou mais artísticos, no 'Dresscode' a moda - sempre tendo como pano de fundo a gastronomia; e, a acabar, o 'lounge', onde tanto se pode falar de vinho, como de uma cidade ou de comida & spa.

 

Esta divisão por temas, ainda que não seja propriamente original (a revista Up da TAP tem uma divisão semelhante) funciona bem. Um exemplo: deve ser a primeira vez que vejo uma produção de moda enquadrar-de perfeitamente num tema que (aparentemente) pouco lhe diz respeito.

 

Poderia julgar-se que todo este lado conceptual e grafismo acabaria por se dar à luz uma revista para hipsters e designers moderninhos, em que os textos seriam relegados para segundo lugar. Porém não é isso que acontece. Por exemplo, neste primeiro número há uma crónica de Adrià, sobre a mudança de paradigma (a propósito do papel que desempenha o cliente na confecção de uma refeição); óptimos artigos de fundo, como o da minha amiga Marta Fernandez (do Gastroeconomy), sobre dialéctica menu de degustação vs carta ("Adiós al 'menú-pack'?"), ou "em busca do stockye", de José Morán Moya, sobre a pesca do salmão do Pacifico na ilha de Lummi, ou "Volverse japonés", uma reportagem de Lydia Itoi sobre a aventura da residência temporária do Noma, em Tóquio.

 

A Tapas Magazine enquadra-se num estilo de revista gastronómica de culto que surgiu nos últimos anos e de que a Lucky Peach e a Fool são talvez os melhor exemplos - mas com a vantagem de custar menos de metade das outras (4€). É provável que o preço tenha a ver com o facto de pertencer a um grupo de media que publica revistas como a Esquire ou a Forbes, o que é de aplaudir, dado que, um pouco por todo lado, os grandes grupos a fugirem de tudo o que não é mainstream. Não sei se se trata de visão, 'cojones', ou insensatez. O que sei é que ela está aí, pelo menos em Espanha. Neste número dá-se a entender que haverá uma edição em inglês e que a mesma estará disponível também em versão digital (paga), através do Zinio. Utilizando uma expressão espanhola de que muito gosto, é caso para dizer: joder, tíos!




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