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A Inês da aletria

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Restaurante Casa Inês  

A Casa Inês nasceu de uma dissidência de parte da família proprietária da Casa Aleixo, o conhecido restaurante portuense da Campanhã. No inicio de 2012 quando abriu, não muito longe da casa original, ainda se chegou a chamar Inês do Aleixo. Porém, apesar da proprietária ser conhecida por esse nome, para evitar problemas, acabou por mudar para Casa Inês. Contudo, o importante é que manteve o essencial: a Inês (filha do proprietário da primeira casa e cozinheira-mor - que ela não gosta que lhe chamem chef), Germano Dinis (seu marido e responsável pela sala), parte da equipa e um bom pedaço do cardápio.

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Germano Dinis é do género de tirar a pinta aos clientes. Ainda balbuciámos o que íamos pedir, contudo, ou ele tirou as medidas ao Sr. Calvão, ou o terá reconhecido de outros carnavais e, vai daí, disse-nos, educadamente: "deixem comigo". Já se sabe que as gentes do norte são hospitaleiras (vá lá, admito, mais do que as do sul), mas o Germano percebeu que já ali chegáramos no fim do festim de três dias (era um domingo, ao almoço) e, como deve ter reparado nos 5 quilos recentemente conquistados, não abusou. Primeiro trouxe-nos uns bolinhos de bacalhau (pastéis, para a malta do sul) com feijão frade e umas tripas à moda do Porto (dobrada - mais coisa menos coisa - abaixo do Mondego). O Duarte ainda fingiu que não gostava de tripas e poupou-se para os filetes de polvo, sem antes se fazer rogado com os bolinhos de bacalhau, fofos, leves e impecavelmente fritos. Eu ainda degustava os folhinhos, que são mais para a proximidade do estômago (de vitela) do que para a tripa, quando chegaram os filetes. O Sr. Duarte Calvão quase chorou ao saborear o arroz carolino solto com pedaços do octópode. Já eu, por acaso, ia dizer que talvez o preferisse mais malandrinho mas, com medo que caísse o Carmo e a Trindade, que é como quem diz, os Clérigos e a Sé, resolvi antes enaltecer os tentáculos do bicho e a sua polme dourada.   
Antes da sobremesa, e perante uma certa estupefacção de quem nos acompanhava, pedimos, para aconchegar, mais uma dose de filetes de polvo e, como limpa palato, a famosa vitela no forno, que de tão tenra quase se comia à colher (normalmente utilizam o cachaço ou o nispo - também conhecido como chambão, na linguagem moura, creio). Pena que já não havia o igualmente afamado cozido à portuguesa, por isso, para rematar veio de sobremesa uma rabanada e uma generosa colherada de aletria para cada um. Houve quem recusasse e eu, como bom escuteiro que nunca fui, comi em dobro. E chorei. Duas horas depois, após duas Água das Pedras, três voltas a pé ao Mercado do Bom Sucesso e cinco à rotunda da Boavista, ainda pensava naquele escândalo de aletria e do forrobodó com a rabanada. A minha fantasia de trio estava satisfeita.
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Nota: post reeditado para uma correcção. As tripas são de vitela e não de porco, obviamente. 
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Contactos: Rua de Miraflor, 2o, Porto || Tel: 22 510 69 88 ; Preço médio: 30€/35€ (com vinho)
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