foto Zazzie
Na semana passada registei, com curiosidade, a notícia de que tinha sido batido o recorde de vendas de Bimbys, em Portugal. O assunto parece ter despertado interesse além fronteiras, com o The Wall Street Journal a publicar um artigo, na sua edição online do dia de Natal, com o título: "Even in Straitened Times, Portugal Loves Its Bimby Cooking Robots". Ao longo desse trabalho, a jornalista Patricia Kowsmann tece algumas considerações interessantes, como, por exemplo, a justificação de que a popularidade da Bimby se deve a uma mistura entre a paixão dos portugueses por gadgets e a tradição, nos lares lusos, das famílias ainda se reunirem à mesa. Depois há também os habituais testemunhos de que a Bimby representa poupança de dinheiro e de tempo e que seria essa, também, a justificação para o seu sucesso mesmo em tempos de crise. É ainda interessante a comparação que faz a jornalista de, em 2012, se terem vendido mais destes robots de cozinha (35 000) do que iPads (22 000), uma comparação para deixar os norte-americanos estupefactos, certamente.
O curioso é que estas noticias e estes números aparecem numa época em que surgem no mercado, a um preço bastante mais baixo, outros aparelhos de características aparentemente idênticas (facto referido, também, no artigo do WSJ). Segundo li numa noticia anterior, creio que do Público, a justificação de uma responsável da Worverk, a empresa que comercializa a Bimby, é de que os anúncios da concorrência despertaram o interesse dos consumidores, que depois, ao compararem as virtudes de umas e de outras, acabaram por escolher a Bimby. Certo, porém, sem querer levantar questões sobre a idoneidade dos jornalistas ou dos jornais de referência que publicaram estes artigos, pergunto: qual a origem destes números? uma fonte independente? Não. Ao que parece, os dados são da própria Worverk. E como saber se não foram empolados pela empresa com o objectivo (conseguido) de se tornarem notícia? Coincidência ou estratégia de marketing, para todos os efeitos, a popularidade da Bimby parece ser inquestionável, a ver pelos mais de cem mil 'likes' no Facebook, trinta mil exemplares de uma revista dedicada à máquina (ainda segundo o artigo do WSJ), dezenas de milhares de exemplares de livros sobre o assunto, ou, até mesmo, pelo facto da noticia de Patricia Kowsmann ser a mais lida da edição online do The Wall Street Journal, à hora em que escrevo estas linhas.
Declaração de (des)interesses: tenho uma Bimby, onde faço sopas, purés, papas de aveia e batidos incríveis. Já como máquina milagrosa de cozinhar, passo. Se outra razão não tivesse, bastava ter visto a mixórdia de bacalhau da receita filmada que aparece no WSJ.