Esta sua última publicação reúne um conjunto de crónicas (mesmo que nem todas o sejam) organizadas como um menu de um restaurante que, metaforicamente, podemos chamar “Portugal”. Neste país de Virgílio Gomes, entram ingredientes, pratos, receitas e os intervenientes da nossa cozinha, dos antigos aos contemporâneos.
No seu estilo habitual, entre o historiador e o contador de histórias, nota-se a paixão do autor, no livro, pela investigação à volta das gastronomia e, ainda mal lemos a sua primeira crónica, “Petiscos e Entradas” (pag19), damos por nós já no seu carrossel, que percorre o país, por vielas e ladeiras de referências, das entranhas da sua (afamada) biblioteca.
Este livro não é inócuo. Virgílio Gomes tem opiniões e defende as suas posições. Fá-lo com autoridade e sem falsas modéstias. Mas também tem o discernimento de evitar o “eu”, “eu”, “eu”, ou o exibicionismo do conhecimento. Por exemplo, em “Os Mariscos (pag 91), o autor escreve: “Os mariscos abrem o apetite e, erradamente, levam a que se pense em preços elevados ou em refeições elitistas. O marisco, tal como o peixe, é cozinhado o menos possível. Mesmo assim, não deixa de haver um público entusiasta que gosta do marisco muito cozinhado, coberto de molhos e, depois, até gratinado. Eu não entendo onde fica o subtil gosto do marisco”.
Concluindo, “Tratado do Petisco” é um livro essencial para quem quiser saber mais sobre o nosso património gastronómico, por entre tremoços e pastéis de bacalhau, sopas e caldos, açordas e migas, alheiras, castanhas e doçaria conventual, entre outros acepipes. Ah! e com direito ao modus faciendi para os freaks das receitas.
P.S. só pela curta (mas belíssima) introdução de Maria de Lourdes Modesto, já vale a compra do livro.
“Tratado do Petisco”, de Virgílio Nogueiro Gomes. Editora Marcador, 18.50€