Foi das melhores notícias que tive nos últimos tempos e só fiquei com pena de não poder dá-la em primeira mão ao chefe Joachim Koerper, a quem infelizmente tive que dar, aqui há uns anos, a péssima notícia de que tinha perdido a estrela Michelin. Koerper está para o Brasil e não consegui que atendesse* Aqui ficam os meus parabéns e a alegria por se ter feito justiça a um grande cozinheiro. Dei a novidade a um surpreendido Miguel Júdice, que me disse não estar nada à espera. "Não compreendemos bem as razões porque perdemos a estrela e não creio que tenhamos mudado tanto assim para agora a recuperar. Mas é muito bom que tenha acontecido, fico muito satisfeito, sobretudo pelo Joachim e pela equipa". Quanto a efeitos no restaurante, Miguel Júdice acha que pode ter mais efeitos entre estrangeiros do que entre portugueses, tal como aconteceu no passado. Já Miguel Laffan, chefe do Land, que creio ser o primeiro restaurante do Alentejo a ter estrela Michelin, ficou sem palavras."Não digo que não tenhamos trabalhado para isso, mas nunca pensei que viesse tão cedo, tenho que ir beber água, tenho que ir beber água...", dizia o chefe, de 34 anos, no projecto desde a abertura, há cerca de três anos. Num segundo telefonema, mais calmo, depois festejar com a equipa, a quem dá os parabéns, afirmou estar realmente muito satisfeito, mas também consciente da nova responsabilidade. E não há muito tempo para festejos. "Amanhã tenho um jantar exclusivo e vou ter que trabalhar", garante. Uma palavra final para o Leonel Pereira, a quem espero que a perda da estrela do restaurante (e não sua) não afecte. É comum a Michelin retirar estrelas a restaurantes que não só mudam de chefe, como também de proprietário. É verdade que o São Gabriel tinha num passado recente mudado duas vezes de chefe, mantendo a estrela, mas o proprietário era sempre o mesmo e só assim posso tentar compreender esta injustiça. Ele que siga o exemplo de Koerper, que nunca esmoreceu até a recuperar. Não lhe liguei porque agora, que já não sou jornalista, dou-me ao luxo de não dar más notícias, sobretudo a pessoas de quem gosto, mas vai daqui um grande abraço e a certeza de que ele continua a ser um dos nossos melhores cozinheiros.
* Consegui finalmente falar com Joachim Koerper, que me explicou que no Rio de Janeiro evita andar com relógio e telemóvel...Estava, obviamente, muito feliz e disse-me que houve festa até às tantas, regada a champagne. Atribui a reconquista da estrela "a um trabalho continuado" e ao esforço da equipa, onde agora Edgar Rocha desempenha um papel fundamental. E agora? "Agora, vamos para a segunda estrela", diz o chefe germano-luso-brasileiro, que trabalha em cozinha desde os 14 anos de idade e que aos 61 anos continua um exemplo de profissionalismo e de espírito forte. E promete uma "grande festa" no Eleven quando regressar a Lisboa em Janeiro.
Foto: Nuno Correia