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Channel: Mesa Marcada
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Há dias que não se deve sair de casa. Chocado!

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Uma pessoa que faz da escrita sobre gastronomia o seu modo de vida deverá saber e gostar de cozinhar? Não necessariamente, mas na verdade ajuda. Mais do que não seja para perceber porque é que há coisas que funcionam bem e outras mal. 

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Gosto de fazer uma pausa para cozinhar depois de períodos intensos de trabalho. Em alturas de grande aperto não há muito tempo para planificar e, por vezes, é quando corre melhor. 

Por exemplo ontem não deu para ir, como de costume, à Açucena Veloso, no Mercado 31 de Janeiro, e acabei por comprar uns chocos na Miosótis - que recebe todas as 3f vários tipos de pescado fresco de uma empresa de Sesimbra que aposta na pesca sustentável (e que utiliza a designação comercial: 'O Melhor Peixe do Mundo'). 
Hoje ao almoço agarrei neles e limpei-os qb, tendo o cuidado de não rebentar a bolsa de tinta ou descartar as ovas que juntei ao cozinhado. Depois cortei-os toscamente e mandei-os para a panela onde já refogava ligeiramente um talo de aipo, duas cenouras, um pedaço de pimento que jazia no congelador, meia cebola e uma cebolinha fresca. Do congelador retirei uns cubos de caldo de peixe q tinha feito ha umas semanas e, do frigorifico, parte de um caldo de legumes que utilizei anteontem. 
Deitei os chocos na panela e envolvi-os no refogado. Refresquei com vinho branco e juntei um arroz de que gosto muito e que fez toda a diferença neste prato. Trata-se de um arroz negro que a Gallo vende com o nome 'Venere'. Este arroz aguenta uma cozedura de uma uma hora em lume baixo e, por isso, pude cozinhá-lo logo de inicio com os chocos. Tem a particularidade ainda de absorver incrivelmente os sabores sem abrir, o que faz com que tenha de se usar em maior quantidade do que um arroz normal, dado que o seu volume não aumenta muito. Tem também um sabor muito particular o que o torna apto para cozinhar a solo mesmo só com água, bastando apenas um fio de azeite no final. 
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Depois de apagar o lume acrescentei uma colher de pasta de malagueta ('Chile de Arbol do Poial') da Maria José Macedo, um fio de azeite, umas gotas de Vinagre Oliveira Ramos ( o melhor vinagre português!) e uma cebolinha. O resultado foi absolutamente incrível, passe a imodéstia. Sobressaiam os sabores do choco e do arroz, mas também, todos os outros (os legumes fundiram-se no caldo), sem atropelos.  A preguiça fez com que tivesse cozinhado os tentáculos inteiros com a cabeça. Em boa hora o fiz porque o contraste de textura com a das tiras, mais tenras foi um must.
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Por ultimo acompanhei este prato com um branco - o mesmo que utilizei para cozinhar - que desconhecia e de que vou ficar cliente: o Quinta dos Castelares. Trata-se de um Douro - feito com as castas códega do larinho, rabigato e verdelho - com alguma estrutura, simples mas não simplório, frutado, mas sem ser salada. 
Definitivamente ele há dias que um homem não deve sair de casa.  

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