A noticia foi publicada ontem por Pedro Aragão Freitas, proprietário, no próprio site do restaurante:
"É com profundo pesar que anuncio que o Bocca encerra hoje as suas portas ao público, após 4 anos de sucessos e conquistas.A grave crise económica que assola o nosso país levou a quebras inimagináveis nas receitas da restauração. Em simultâneo, todos os custos energéticos subiram vertiginosamente."
Perante a necessidade de aumento da receita fiscal, o estado português decidiu aplicar aquele que considero ter sido o derradeiro golpe de misericórdia: aumentar a taxa de IVA na restauração de 13% para 23%.
É do conhecimento geral que o setor da restauração é um dos que mais contribui para a economia paralela portuguesa. Estou seguro que uma maior e mais eficiente fiscalização seria suficiente para gerar o aumento de receita pretendido, para além de contribuir para uma maior justiça e igualdade entre todos. O governo poderia ter seguido essa opção. Não o fez! Optou por penalizar primeiro os cumpridores. O Bocca sempre foi um desses raros. Provavelmente terá sido erro meu…
Gostaria de deixar um profundo agradecimento a todos os excelentes profissionais que hoje deixam esta casa. Este é um projecto construído e partilhado por todos e sei que o sentimento de enorme injustiça estende-se a todos vós.
Neste momento o nosso país não assegura as condições mínimas para que se possa manter um negócio que, como este, assenta no recurso a mão-de-obra intensiva e altamente qualificada.
Melhores dias virão, com certeza! Por isso, aos nossos clientes não dizemos adeus. Dizemos até um dia!
Pedro Aragão Freitas"
Depois do Vin Rouge e do Manifesto é mais uma perda que se lamenta na restauração da grande Lisboa (e do país). O Bocca foi um restaurante que se conseguiu impor num difícil segmento alto à conta da persistência e do empenho de uma equipa cujas caras mais visíveis eram o próprio Pedro Aragão Freitas, o escanção Ricardo Morais e o Chef Alexandre Silva. Estou à vontade para o dizer porque fui dos que no inicio achei (e escrevi) que o projecto era um pouco 'over priced' e a cozinha de Alexandre Silva, algo inconsequente. No entanto não deixei de reconhecer que com o tempo, o Alexandre foi construindo o seu caminho com um empenho inconformista que presenciei em poucos chefes. Estou em crer que, mesmo em tempos de crise, os bons profissionais não ficam por aí ao deus dará.