Sempre ou quase sempre que se fala do Guia Michelin é para se falar de estrelas e, para dizer a verdade, há muito que não se encontra grande interesse nos guias para além destas atribuições. Desde há uns anos, talvez pela queda nas vendas, os próprios responsáveis do guia devem ter percebido que tinham de fazer algo. Numa altura em que todo o mundo tem um smartphone com Google Maps na mão, os mini mapas do guia de papel tornaram-se pouco relevantes. Por outro lado, as escolhas dos restaurantes não estrelados há muito que deixaram de ser uma referência (se é que alguma vez o foram) e mesmo os Bib Gourmand nunca pegaram.
Com mais ou menos critica, justiça ou injustiça a questão das estrelas continua em alta pelo que do ponto de vista estratégico o empenho dos responsáveis do guia teria de ser colocado na melhoria do restante conteúdo. E isso começou a ser visível de há um par de anos para cá (ou talvez até há um pouco mais) com os comunicados de imprensa (e não só) a darem maior ênfase, sobretudo aos Bib Gourmand. De facto, os destacados com esta referência nas diversas edições mundiais melhoraram a olhos vistos... excepto em Portugal.
No post anterior, escrevia o Duarte, que já tem o guia de 2018 em papel, que alguém lhe disse que a Michelin tinha enviado cá uma pessoa para tratar dessa parte dos não estrelados e que isso era visível em Lisboa, com a inclusão de restaurantes que têm sido uma referência (ou pelo menos têm sido bem sucedidos), ainda que no Porto, mais até do que no resto do país (digo eu), continuasse tudo na mesma - o que só por si já seria suficiente para considerar que essa história dos critérios serem os mesmos em todo o mundo é uma bela treta. São mais ou menos na questão das estrelas, mas não são de todo nas outras escolhas
Mas vejamos a actual lista dos Bib Gourmand em Portugal, os tais com boa “relação preço qualidade” que a guia vermelho começou a dar relevância um pouco por todo o mundo:
ALGARVE
Albufeira / Sesmarias : O Marinheiro
Lagos: Don Sebastião,
Poço Barreto: O Alambique
ALTO ALENTEJO
Évora : BL Lounge, Dom Joaquim, Origens (novo)
Portalegre: Solar do Forcado, Terrugem, A Bolota
BAIXO ALENTEJO
Alcochete : Don Peixe
Sines: Cais da Estação, Trinca Espinhas
BEIRA ALTA
Tonda : 3 Pipos
Viseu: Muralha da Sé
BEIRA BAIXA
Covilhã: Taberna A Laranjinha (novo)
BEIRA LITORAL
Águeda: O Típico
Aveiro / Costa Nova do Prado: Dóri
Cantanhede: Marquês de Marialva
Salreu: Casa Matos
DOURO
Carvalhos: Mário Luso
Maia / Nogueira: Machado
ESTREMADURA
Bombarral: Dom José (novo)
Leiria / Marrazes : Casinha Velha
Lisboa: D’Avis, Solar dos Nunes
Queluz / Tercena: O Parreirinha
MADEIRA
Câmara de Lobos: Vila do Peixe
Funchal:Casal da Penha (novo)
MINHO
Braga: Centurium
Guimarães : Histórico by Papaboa
Pedra Furada: Pedra Furada
Viana do Castelo: Tasquinha da Linda (novo)
Viana do Castelo / Santa Marta de Portuzelo: Camelo
Vila Nova de Famalicão / Portela: Ferrugem
RIBATEJO
Malhou: O Malho
TRAS-OS-MONTES
Alijó: Cêpa Torta
Chaves: Carvalho
Macedo de Cavaleiros: Brasa
Sem querer desrespeitar algum dos restaurantes que aqui constam (que merecem a referência) digam lá se esta lista tem algum jeito?
Não há mesmo nenhum restaurante do Porto com “bom preço qualidade”?
E em Lisboa, só há mesmo dois e são o D’Avis e o Solar dos Nunes?
Será que os restaurantes destas duas cidades atingiram preços demasiado elevados, mas Madrid e Barcelona, não?
Não querendo chamar-lhe outra coisa, no mínimo, chamo-lhes um mistério.
Nota: os Bib Gourmand deixaram de ter a referencia a um preço mínimo “menos de 35€”, para Espanha e Andorra e “menos de 30€” para Lisboa, nesta edição. Agora são apenas “a melhor relação qualidade-preço”
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P.S: num post anterior referia o facto do comunicado vir escrito em bom português ao contrário do que acontecia na versão lusa do guia até ao ano passado (dizem-me que este ano melhorou, mas só vendo para crer).
Porém, uma questão continuava a irritar-me solenemente e que via como uma negligência e um falta de respeito: a menção em espanhol ("la guía") no bordado das jalecas dos chefes de Portugal que ganharam as estrelas. Apesar de em anos anteriores, eu e outras pessoas, termos chamado à atenção os responsáveis espanhóis do guia para este facto, fizeram sempre vista grossa.
Só que desta vez deixei-me de falinhas mansas e resolvi disparar a torto e a direito (em português, espanhol e inglês) no Twitter, a rede social mais utilizada no meio gastronómico espanhol. Fiz bullying com alguns dos meus colegas de lá, que mostraram apreço e foram solidários (alguns “re-twittaram” mesmo) e disparei nas contas da Michelin Espanha, na da directora do guia ibérico Mayté Carreño e na do director de comunicação Ángel Pardo. Nunca responderam, como previa. Porém, quando “taguei” Claire Dorland uma responsável do comité executivo internacional (que está acima dos regionais), esta simpaticamente respondeu assim:
Às vezes protestar veemente e em várias direcções resulta. Vamos ver se a promessa se cumpre.
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