Justa Nobre, numa ocasião em que me tentou ensinar a fazer os seus esplêndidos rissóis. Não aprendi, tenho que tentar de novo, se ela tiver paciência. (Foto: Cristina Gomes)
O nome, “À Justa”, deixa adivinhar uma cozinha mais pessoal, mais “de autor”, mas ela não se descose e apenas adianta que será “cozinha portuguesa”. “Como sempre fiz”, sublinha. No entanto, quem conhece alguns dos seus clássicos, desde a sopa de santola ao robalo à Justa, sabe que não é bem assim, porque a nossa mais conhecida e experiente chefe de cozinha confere um toque especial àquilo que faz, apesar de quase sempre serem sabores bem reconhecíveis como portugueses. Vamos então esperar para ver o que ela nos apresentará lá para Abril quando o novo restaurante abrir na Calçada da Ajuda, 107, com os seus 38 lugares.
Apesar de morar na Parede há muitos anos, a transmontana Justa Nobre diz que “a Ajuda é o meu bairro, ando na rua e conheço as pessoas, conheço os lugares”. Uma marca que ficou dos anos 90, quando O Nobre, na Ajuda, era um dos restaurantes mais frequentados de Lisboa, a começar pelo então presidente da República, Mário Soares, uma das muitas figuras públicas que não dispensavam os cozinhados de Justa Nobre nem o atendimento exemplar do seu marido, José Nobre. “Há mais de dez anos que andava de olho neste espaço”, confessa-nos a ilustre transmontana, “queria muito voltar à Ajuda”.
O novo restaurante fica no primeiro prédio, de azulejos, que se vê à esquerda (Foto: Google Street View)
Mas que sosseguem os espíritos da gastronomia, porque o actual Nobre, no Campo Pequeno, continuará a funcionar como até aqui, com Justa a dividir-se entre as duas casas, mas com as irmãs e também excelentes cozinheiras, Margarida e Ana, a assegurarem o dia-a-dia e com o marido sempre na sala. Foi aliás nesta sala que conversámos nesta quinta-feira com a irrequieta chefe, aquando da apresentação em Lisboa do Festival do Butelo e das Casulas, que se realiza já na próxima semana em Bragança, de sexta-feira a domingo, envolvendo 26 restaurantes do concelho e com muitas actividades, que podem ser conhecidas através do site www.cm-braganca.pt.
No jantar de apresentação, que Justa Nobre organiza há cinco anos, muitos convidados de origem transmontana (entre os quais este que vos escreve), mas também muitos que se casaram com transmontanos, os “assimilados”, como os classificou Adriano Moreira (“o maior transmontano vivo”, no dizer do presidente da Câmara de Bragança, também presente), que encerra sempre estes jantares com óptimos discursos, onde nunca falta o humor.
Mas também havia “infiltrados”, classifico eu, com destaque para os de origem alentejana, casos dos chefes António Nobre, José Bengaló, José Júlio Vintém e Vítor Sobral. Ou do algarvio Bertílio Gomes. Ou do sesimbrense Hélder Chagas. Ou do portuense Miguel Castro e Silva. Ou do cascaense Miguel Laffan. Ou do lisboeta João Alves, que deixou a Penha Longa para assumir a chefia do Rio’s, em Oeiras, que está em remodelação. De origem transmontana mesmo, só André Magalhães e Milton Anes.
Todos se regalaram com o butelo e as casulas bragançanas, mas também com outros quitutes como empadinhas de perdiz e castanhas, croquetes de butelo e sementes de papoila, salpicão, caldinho de casulas com hortelã, para começar. Já à mesa, originais “azedos” corados com grelos, açorda de espargos verdes, casulas com butelo, pernil fumado e costela de bísaro. No fim, macaron de castanhas com o seu crocante e gelado do vinho do Porto. Mal posso esperar pelo que Justa Nobre vai apresentar no novo restaurante. Talvez haja surpresas, mas de certeza de que vão ser boas.