Quem quiser conhecer, ou revisitar, o Leopold, tem só até dia 29 deste mês. É que a partir dessa data, o chefe Tiago Feio e a sua mulher, Ana Cachaço, responsável pela sala, vão subir da pequena padaria adaptada a restaurante na Mouraria para o luxuoso hotel Palácio Belmonte (na foto, de divulgação), mesmo ao lado do Castelo de São Jorge, onde dentro de, espera-se, poucos meses, surgirá o novo Leopold. Para trás, ficam mais de dois anos de um restaurante extremamente original, que surpreendeu muito gente, portugueses e estrangeiros, como se pode ler, por exemplo, neste recente post do blogger Jorge Guitián no seu Diário del Gourmet de Províncias (já agora, vale muito a pena ler também o que ele escreveu sobre a Taberna da Rua das Flores, o Loco e o Peixe em Lisboa 2016).
Mas a surpresa não se restringiu apenas aos clientes que ocupam noite após noite, os dez lugares distribuídos por quatro mesas do pequeníssimo restaurante da Mouraria. Os próprios responsáveis pelo arriscado projecto não escondem que ficaram surpreendidos com o êxito e a notoriedade que alcançaram. “Honestamente, não estávamos mesmo nada à espera. Quando viemos para cá, achámos que, se desse certo, como isto era pequeno e com poucos custos fixos, nos conseguiríamos manter com alguns residentes na área e um ou outro turista. Se corresse mal, como também o investimento era pequeno, não perderíamos muito”, explicou Tiago Feio ao Mesa Marcada.
Natural do Porto, ele começou tarde na cozinha, com experiências no antigo Buhle e depois, já em Lisboa, no Largo, com Miguel Castro e Silva. “O meu objectivo principal com o Leopold era ganhar experiência não só como cozinheiro, mas também como responsável por um restaurante próprio. Desde o início, o nosso horizonte era de ficar aqui uns dois ou três anos, só não esperávamos era ter tanta repercussão”, sublinha o chefe, que atribui grande parte do êxito a uma certa “máquina de comunicação” que diz existir em Lisboa e que tornou o seu restaurante rapidamente conhecido no meio gastronómico.
Agora, Tiago Feio, que sempre trabalhou sozinho no Leopold, vai ter alguém para o ajudar permanentemente na cozinha do novo restaurante, servindo 24 pessoas, curiosamente também distribuídos por apenas quatro mesas. A diferença é que haverá uma mesa com dez lugares, próxima da cozinha, que estará aberta à sala, onde poderão se sentar lado a lado pessoas que não se conhecem. Na sala, continua Ana Cachaço, uma investigadora na área de Biologia que mudou de vida, agora com duas pessoas a ajudá-la, uma delas Olavo Rosa, um “todo-o-terreno”, com experiência na cozinha do Apicius, mas também como escanção do Claro!, acabado de chegar de um período no Locavore, em Bali, presente na lista dos 50 Melhores do Mundo. Quando for necessário, e Tiago Feio adivinha que serão muitas vezes, ele dará uma ajuda na cozinha.
“É claro que no novo Leopold tenho gente a trabalhar comigo, tenho equipamentos, tenho acesso a outros produtos, mas não pretendo mudar de estilo, é mais uma evolução dentro do que tenho feito nos últimos dois anos, com apenas dois menus, um mais longo outro mais curto”, afirma Tiago Feio, que recusou outras propostas de hotéis em Alfama até aceitar o convite de Frédéric Coustols, o francês proprietário do hotel Palácio Belmonte, que só tem dez quartos. “Nos outros hotéis, queriam que eu fizesse pequenos-almoços, refeições mais simples, room service…Ora, não nos víamos nada a trabalhar nessas condições e por isso foi óptimo surgir este convite porque no Palácio Belmonte, além de termos uma entrada independente através do Pátio D. Fradique, só temos que nos ocupar com os jantares, dentro daquilo que queremos fazer, com liberdade completa. Só na parte da decoração é que há uma intervenção directa do hotel, por uma questão de coerência de estilo, o que faz sentido”.
Depois de encerrarem o Leopold da Mouraria, Tiago Feio e Ana Cachaço vão tirar umas pequenas férias para depois se dedicarem totalmente ao novo projecto que, se tudo correr bem, deverá estar pronto no final do Verão, início de Outono. Um período de interrupção que o chefe vê de forma positiva. “Tenho noção que criámos uma certa expectativa e que vai haver muita gente a dizer ‘ah, no outro é que era bom’, mas espero que isso vá passando com o tempo. Pode ser que com esta interrupção as expectativas baixem um pouco…”, considera.