O Apartamento estava à cunha, com muitas caras conhecidas espalhadas pelas salas. Cozinheiros em dia de folga e outras pessoas directa ou indirectamente relacionadas com o mundo da restauração faziam (quase) o pleno.
O local escolhido e o ambiente informal remetia mais para uma reunião de amigos e conhecidos do que para uma conferência de imprensa, ou uma apresentação, embora fosse este último motivo o pretexto para que toda a gente se acotovelasse, sem aparente incómodo, entre copos de vinho, pão, queijo enchidos e petiscos preparados pelo chef João Rodrigues, do Feitoria (o único cozinheiro a trabalhar na folga).
Numa das estantes da sala principal e pelas mesas desta casa portuguesa (com certeza), destacavam-se várias facas de desenho retro, inspiradas nos canivetes antigos, de ponta aguçada e cabos feitos de chifre de vaca ou de oliveira.
Cheguei a pensar que nem sequer haveria apresentação. As facas andavam de mão em mão, com o Paulo Amado a explicar o projecto, a este e a àquele, e o Nuno Mendes a desdobrar-se de modo a chegar a todos, com aquela amabilidade, que lhe é tão característica.
A vantagem do Mesa Marcada ser um blogue permite-me não ter de escrever a noticia num formato rígido. Porém, vamos lá tentar não perder o foco.
As facas Rocks fazem parte de um projecto do cuteleiro Carlos Norte (à direita, na foto de abertura), criado em conjunto com o chef português e o director das Edições do Gosto. “Já era uma ideia que tinha, a de tentar colocar canivetes portugueses na mesa, como fazem em França com as Laguiole ", começou por dizer Carlos Norte, na apresentação (sim, afinal houve apresentação). “Com a industrialização”, continuou o artesão, “este tipo de cutelaria deixou de se fazer e, por isso, há muito que queria lançar um projecto assim”.
Foi mais ou menos nessa altura que apareceu o Paulo Amado e com ele Nuno Mendes, cada vez mais empenhado em levar Portugal e os produtos portugueses para Londres. “Orgulho-me por poder mostrar as nossas coisas, ajudar a recuperar uma tradição”, refere Mendes, revelando que o fascínio por estes objectos vem de criança. “Passei muito tempo no Alentejo e lembro-me, quando tinha uns 5 anos, do canivete ser a ferramenta dos homens do campo. Era como um objecto mágico, que transformava tudo o que tocava".
O projecto ainda está numa fase inicial e embora algumas facas já existam há algum tempo só agora vão começar a ser comercializadas de uma forma mais sistematizada. Não está definida ainda uma rede de vendas mas deu para perceber que, em Portugal, a comercialização passará pelo próprio site da Rocks Knives e por lojas como a Vida Portuguesa, cuja proprietária Catarina Portas era uma das presentes. Já em Londres a Taberna do Mercado, o restaurante de Nuno Mendes que muito tem dado que falar, será um dos locais de venda, com o chefe português a ter ainda a esperança de conseguir colocar as facas no badalado Chiltern Firehouse, o outro restaurante onde comanda a cozinha.
“Dá-me orgulho de fazer algo em que acredito muito”, concluiu Mendes com um ar visivelmente satisfeito. "Temos que puxar mais por isto, pelos produtos artesanais. Há que dar-lhes valor”.
Surpreendida com afluência a este “encontro de amigos” estava Inês Matos Andrade da Plataform-A, que com Paula Cosme Pinto e Armando Ribeiro - o responsável desta agência de RP –, gerem o Apartamento: “convidámos cem pessoas a pensar que vinham umas quarenta e apareceram cento e tal!”. Enquanto isso, na cozinha, João Rodrigues continuava atarefadíssimo a virar frangos Michelin.
Fotos: Miguel Pires (as duas primeiras) e Facebook da Rock Knives.