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Saia uma cerveja de abadia Afflirrreem, Affligan, Affligem, Aff... o quê?

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Com o fenómeno das cervejas artesanais (ou de micro-produção) em Portugal a ultrapassar finalmente a fase infantil, as grandes cervejeiras portuguesas têm feito igualmente o seu trabalho no sentido de elevar a imagem bebida fermentada a outro patamar.

 

Se a Unicer (do grupo Calsberg) tem vindo a produzir e a comercializar, sazonalmente, as Super Bock - Selecção 1927, um conjunto edições limitadas de cariz artesanal, já a sua concorrente Central de Cervejas (do grupo Heineken, produtora da Sagres) tomou um caminho diferente, não entrando directamente na produção de algo no mesmo estilo mas apostando numa das cervejas premium do seu portfolio internacional: a cerveja de abadia Affligem. 

 

As cervejas belgas de abadia, ou de tradição beneditinas, não são propriamente uma novidade em Portugal havendo uma empresa, a DCN Beers, que se dedica há mais de 20 anos a distribuir um rico portfolio deste tipo. Mesmo as duas citadas cervejeiras portuguesas também fizeram uma aproximação ao estilo criando as suas próprias marcas Sagres Bohemia e Super Bock Abadia. No entanto, após algum sucesso inicial, o consumo foi perdendo fulgor e deixaram claramente de ser uma aposta.

 

Bebi durante algum tempo a Bohemia mas nunca suportei o doce excessivo da Abadia. Com o tempo enjoei também a primeira e mesmo algumas das importadas belgas. Como em tudo procurei encontrar o meu estilo, entre os vários tipos e dezenas de ramificações, no complexo mundo das cervejas (ver mapa abaixo), no qual as lager, pilsener (Sagres, Super Bock, Heineken, Carlsberg, etc) são largamente maioritárias. É este o tipo de cerveja que prefiro, como muitos consumidores, no convívio entre amigos, num fim de tarde na praia, com frango assado, marisco, ou futebol. Porém, estamos a falar de cervejas especiais (que também as há entre as pilsner) e entre estas, gosto particularmente das IPA (India Pale Ale) e do sabor amargo pronunciado ('hoppy') do lúpulo que se faz sentir. 

 

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Numa recente viagem a Bruxelas, à abadia da Affligem e à sua fábrica, a convite da Central de Cervejas, tive oportunidade de me reconciliar de novo com algumas belgas deste estilo (das quais só mantinha praticamente o consumo regular de um caso muito especial chamado Orval). 

 

Como a marca aposta actualmente na ligação da bebida com comida, estando neste momento presentes em 70 restaurantes "premium", em Portugal, a visita começou com um jantar num restaurante antigo da capital, o lindíssimo La Quinquillarie. A ideia era testar então o pairing, mas os pratos escolhidos - pesados, com produto sofríveis e molhos na pior tradição hoteleira - estiveram longe de ser a melhor opção, acabando por não servir ao propósito.

 

Porém, não se perdeu nada de crucial. A sessão valeu pela introdução ao universo da Afliggem, por parte do beer sommelier Matthias Lataille, que fez uma breve apresentação sobre as cervejas da marca em prova (Blonde, Double e Tripel) e a melhor forma de as servir. 

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Há sempre um lado um pouco marketeiro nesta parte mas o ritual parece ter lógica. "Temos 2 copos: um para o 'corpo' e outro para a 'alma'. Na Bélgica colocam a 'alma' num copo pequeno e o 'corpo' no normal. Primeiro bebe-se 'o corpo' e depois a 'alma'", começa por nos dizer Matthias Lataille, desvendando o porquê de termos cálice largo junto do copo principal. Estas cervejas são de dupla fermentação. Ou seja: depois do primeiro processo em garrafa acrescentam-se outras leveduras, que segundo a marca dão à bebida "mais vida, maturidade, complexidade e efervescência".

 

Acontece que depois da fermentação concluída (dura duas semanas) um resquício dessas leveduras deposita-se no fundo da garrafa e daí a razão do segundo copo. Mas para isso vamos ao cerimonial do serviço. 

 

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Segundo o sommelier "esta cerveja deve ser servida com 40% de espuma". Como se faz? Pega-se o copo pelo pé, inclina-se a 45° e verte-se o liquido calmamente, endireitando-o a pouco e pouco até o enchermos. "Se   o colocamos muito lentamente chega-se sem espuma e se formos muito rápidos ela será demais", alerta o nosso sommelier. Ah! quanto à pequena parte que sobra, a dita 'alma', agita-se moderadamente a garrafa e coloca-se o liquido espumoso no copo pequeno. Depois bebe-se à vez, ou deita-se com jeitinho no copo grande. Ok, também pode dispensar-se o cálice que ninguém será acusado de vender a alma ao diabo. 

 

Das 3 cervejas em prova a que mais gostei foi a Blonde - o que até calha bem porque é a única disponível em Portugal. Trata-se de uma cerveja ligeiramente encorpada e com alguma complexidade. No aroma estão presentes especiarias em dose qb, nuances a citrinos e a banana. Na boca, é suave, sente-se o malte e um pequeno e fundamental amargor no final. Já a Double e a Tripel, fazem parte do tipo de cerveja belga que aprecio menos. Acho-as demasiado especiadas e doces o por isso mais pesadas e enjoativas. (Uma nota à parte para referir que Double significa 'malte escuro', ou seja: a cerveja é mais tostada e caramelizada. Já a tripel, mais forte, leva mais malte) 

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Hoje em dia são poucas as cervejas produzidas nas próprias abadias. Serão 12 (6 na Bélgica), segundo a Associação Internacional Trappist. Contudo, há 22 marcas que levam o nome desses lugares religiosos, entre as que ainda pertencem aos grupos de culto e as cujos nomes foram licenciados. No caso da Affligem (pronuncia-se Afflirren), o fabrico e a receita saíram da abadia para uma pequena fábrica (brewery) construída em 1970 e que faz parte do universo Heineken desde 2000. 

 

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Tivemos a oportunidade de visitar a abadia, que está aberta ao público em determinados períodos do mês - e em que é possível inclusive pernoitar - e escutámos a sua história, que mete guerras, destruições e reconstruções, uma verdadeira epopeia que pode ser lida aqui.

 

A razão para se ter iniciado o fabrico de cerveja nestes locais deve-se ao facto dos monges produzirem os seus proveitos dentro da propriedade, sendo praticamente auto-suficientes. Neste caso (tal como noutros da zona) possuíam vinhas, mas a cerveja prevaleceu porque fazia parte da cultura da região. Hoje o momento é complicado, não em relação à existência da marca, mas sim quanto à continuidade da Abadia Affligem. É que existem actualmente apenas 10 monges e a média de idade anda nos 82 anos 😳. 

 

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Como referi acima, em 2000, a Aflligem passou a fazer parte do grupo Heineken, que foi responsável por expandir a marca para 30 mercados, o que possibilitou que a cerveja continuasse a ser feita com os melhores ingredientes, mas recorrendo à tecnologia actual.

 

A empresa não divulga as quantidades de cerveja que produzem na fábrica, onde trabalham apenas 17 pessoas (o engarrafamento é feito noutro local), nem  os ingredientes, nomeadamente as 5 especiarias que utilizam. Todavia conseguimos saber que há por ali cominhos, casca de laranja, semente de coentro, alcaçuz e anis,  o que é óptimo porque com essas pistas poderei entreter-me a produzir umas litradas aqui em casa. Enquanto isso não acontece vou ali comprar umas garrafas e contribuir para os 'royalties' dos monges da Afliggem. Pode ser que a contribuição os ajude a prosseguir com uma campanha para atrair malta mais jovem para a abadia.

  


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