Segundo a informação que acabámos de receber (num comentário de Paulo Fernandes publicado no post do jantar vínico do Marmóris), o chef Miguel Vieira mantém a estrela Michelin no restaurante Costes, em Budapeste (na Hungria) na nova edição do Guia Michelin - Main Cities of Europe 2013. Este guia reúne informações já publicadas noutros livros e é também a referência para, por exemplo, os países nórdicos que, apesar de todo o destaque que as suas cozinhas têm vindo a ter nos últimos anos, não têm direito a um guia autónomo. Nesta nova edição o Noma (nº 1 do mundo da lista World 50Best) mantém apenas as 2 estrelas que já tinha, tendo agora em idêntica companhia de estatuto, em Copenhaga, o Gerandium de Ramus Kofoed, que sobe de uma para duas estrelas.
Voltando a Miguel Vieira, no ano passado tracei-lhe o perfil para a Up (a revista de bordo da Tap) num texto que aproveito agora para o publicar aqui.
Miguel Vieira estava em Lisboa quando em Março de 2010 recebeu a noticia que o Costes, o restaurante em Budapeste onde até há uns meses fora Chef de cozinha, ganhara uma estrela michelin. Passara na capital húngara dois anos inteiramente dedicados à causa e, já em Lisboa, onde veio em busca de uma vida mais calma e de melhor clima, sentia que aquela estrela lhe pertencia. Pediram-lhe que voltasse e não teve como recusar. “Trabalhei como um animal e já que fui reconhecido, vou voltar”, refere-nos.
A conversa decorre no Il Gallo D’Oro, o restaurante do Hotel Cliff Bay, no Funchal, onde Miguel Vieira é um dos convidados da Rota das Estrelas (o evento que ao longo do ano reunirá em Portugal chefes de cozinha portugueses e estrangeiros distinguidos pelo guia Michelin). Estamos sentados com vista para o Atlântico mas este lisboeta de 33 anos, estatura média e sorriso fácil não parece dar-lhe muita importância. Talvez por saber que no dia seguinte voltará a um país que aprendeu a gostar mas que não tem mar. Conta-nos como foi lá parar: “Estava em Cádiz insatisfeito e resolvi enviar o currículo para um novo projecto que ia abrir Em Budapeste”, refere. “Chamaram-me e eu resolvi ir. Se não desse em nada pelo menos gozava um fim de semana na cidade”. Mas gostaram dele e ficou. Miguel Vieira estima Portugal, mas habituou-se a estar fora. Estudou gestão hoteleira e cozinha em Londres e trabalhou em vários países, antes de chegar à Hungria, por isso é natural que a sua cozinha seja um reflexo disso mesmo. “Levo um bocadinho de todos os sítios onde trabalhei, do que vi, do que comi, do que gosto”. De Portugal recebe flor de sal e procura agora quem lhe forneça um bom queijo e azeite; da cozinha local tenta dar “um toque aqui ou ali” e “estar atento aos produtos da temporada”. Por coincidência um dos pratos mais emblemáticos do Costes, 'O nosso prato de porco, acelgas, e puré de aipo' tem algo de português. Está lá, de forma aprimorada, a entremeada, a morcela, a perna do porco e até uma espécie de croquete. Contudo quem pretender provar esta e outras criações do Chef luso terá de apanhar o voo da Tap para Budapeste. É que apesar de se imaginar um dia, em Portugal, com um restaurante/hotel de três ou quatro quartos e uma só mesa grande na sala (“uma coisa assim muito familiar. Uma comida simples com produtos muito frescos”), o seu foco está neste momento na capital húngara. “Para já a minha cabeça está aqui, não penso em voltar. Estamos, inclusive, a pensar mudar de sitio. Em principio já no Verão”.
Contactos: Costes Restaurant, 1092 Budapest, Ráday utca 4; Tel.: +36 1 219 0696; www.costes.hu