Isto não anda fácil… todos sabemos. Apesar dos 3,5 salários a menos que já me voaram (sem contar com aumentos e impostos) posso considerar-me uma privilegiada. Mais do que com isto, ando preocupada e triste com as situações de outros que estão bem pior, mas sobretudo com a falta de perspectivas de tantos jovens com alto nível de formação, e muito bons, e que não têm quaisquer oportunidades de contribuir para um país que tanto precisa deles. Como nos podemos dar ao luxo de os perder? Somos um país tão rico que damos uma formação de qualidade aos nossos jovens para depois outros países beneficiarem dela? Não percebo nada... Isto não anda fácil...
Muitas horas depois, ainda sinto alguns daqueles sabores, revivo algumas das sensações e estes momentos têm sido o motor de muitas reflexões.
pregado com favas, hortelã e molho de caipirinha
Tenho pensado sobre a evolução da cozinha em Portugal, em como tanto tem mudado nos últimos anos. Ainda há um longo caminha a percorrer, mas o que já se andou, é muito. Fazem-se coisas muito boas. Muito originais.
É um privilégio poder acompanhar esta dinâmica, esta evolução. É um orgulho ver trabalhos que têm uma forte marca cultural nossa, que reflectem muita maturidade, evolução, trabalho, criatividade…
especial... brilhante...
Em todo este processo, houve quem mudasse de rumo, quem assumisse outras opções mais comerciais, também importantes, mas felizmente há quem, com grande dinamismo, tenha como objectivo a busca de uma linha de trabalho própria e da qualidade. Que faz uma cozinha actual, mas que só podia ser feita aqui.
pezinhos, bacalhau, vinagre, coentros e chícharos
Nalguns momentos quase me sentia culpada por estar ali, naquele oásis, porque isto não anda mesmo nada fácil... Mas um trabalho destes só pode contribuir para ajudar ultrapassar a situação actual, é fundamental que o continuem a fazer.
El sector gastronómico (no solo la cocina) tiene que jugar un papel en la actual crisis. Tiene que asumir unas responsabilidades y hacerse consciente de sus fortalezas. Lo contrario nos llevará a esa postura, que hoy he leido una vez más, de "hablar de alta cocina en las actuales circunstancias es una frivolidad". Y eso sería terrible.
Porque esa postura existe todavía en buena parte de la sociedad, pero callarse y dejar hacer sólo hará que se extienda más. La gastronomía puede aportar mucho para salir de la crisis, la sufre como cualquier otro sector (y probablemente más que muchos otros), tiene que asumir lo que pudo tener en un momento de burbuja y salir reforzada de todo esto.
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La alta cocina es un lujo al alcance cada vez de un número menor de privilegiados. Es cierto (en parte). Pero también lo es una entrada a la ópera, una entrada para la final de la Copa del Rey o un diseño de Balenciaga. Y sobre esos tres últimos no he visto todavía este tipo de generalizaciones. Por esa regla de tres deberíamos cerrar los palacios de la ópera y dejar de subvencionar los museos, por ejemplo. ¿No?
cenouras, vitela assada com alecrim e jus de pimenta preta
O trabalho de que eu estava a usufruir naquele oásis é fundamental neste momento, é fundamental que o apoiemos, porque são trabalhos como este, em que se inova, se cria e se procura a qualidade que podem gerar dinheiro e contribuir para a cultura e imagem de um país.