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Lisboa fica um pouco mais pobre sem a Panificação do Chiado

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Hoje, ao espreitar o público on-line, vi a seguinte notícia “Já não há pão e bolos na Panificação do Chiado”. A Panificação do Chiado fechou!

 

 

Perdemos o hábito de ir à padaria e passámos a comprar nos supermercados… nas grandes superfícies. Vamos perdendo uma parte importante da nossa cultura. E a culpa é de todos. De nós consumidores que nos deixamos levar pelo mais fácil e o mais barato (o que, de facto, acaba por sair muito caro…). Dos produtores, a quem por vezes falta dinamismo para evoluir, procurar a qualidade e o seu lugar no mercado (porque o há). E assim vamos facilitando a vida, e contribuindo para aumentar os lucros, das grandes cadeias de retalho, que nos vão distraindo e rapidamente vão acabando com tudo à volta.

 

Nos restaurantes a atenção dada ao pão também não é muita. Frequentemente é fraco, algo industrial que se mete no forno para acabar de cozer. Mesmo em casos em que esperaríamos (e pagamos) algo diferente, mais personalizado, com mais qualidade. Mesmo em restaurantes que apresentam como representantes da nossa cultura gastronómica e em que o pão é uma pobre cesta com carcaças secas em fatias torrada e umas baguetes.


Há muito que o nosso pão está em crise, que em Lisboa tenho muita dificuldade em comprar bom pão. Não é de agora. Há mais de uma década que isto acontece. É parte da nossa cultura que estamos a perder!

 

Este ano visitei uma panificadora no Alentejo. A farinha é toda importada, cada vez produzem menos, a maior parte das unidades de produção de menor dimensão já fecharam… E sai-se de lá triste!

 

 

O pão que comemos é muito fraco, mesmo muito. É urgente que mude ou arriscamo-nos a perder uma componente importante da nossa cultura. Vão aparecendo algumas unidades de produção artesanais, algumas melhores que outras, algumas que produzem o nosso pão, outras que produzem pães mais ou menos bons, mas que não são o nosso pão. Há lugar para todas. Há lugar para quem tem uma aproximação diferente – basta ver A Padaria Portuguesa (apesar da qualidade do pão precisar de algumas atenção…). As boulangeries que, cada vez mais, vão abrindo em Lisboa, e alcançando o sucesso. Nós gostamos de pão. Mas o nosso pão? Onde anda ele? Como anda ele?

 

Para além disto, casas com história que fazem parte da alma de uma cidade, da nossa cultura, vão fechando. Vão abrindo cada vez mais casas sem personalidade e sem interesse. Asséticas no aspeto e na comida.  Sem alma no ambiente e no que nos servem. É fundamental preservar a nossa cultura. É importante adaptarmos-nos á vida actual, mas não descaracterizar o que nos caracteriza, mantê-lo vivo! Manter a alma das nossas cidades.

 

É importante que surjam bons espaços de uma cozinha inovadora, mas tão ou mais importante é que surjam (e se mantenham) espaços que preservem a nossa cultura gastronómica. 

 

PS

E manter a nossa cultura gastronómica viva e atraente não passa por substituir arrozes por risottos, pães por foccaccias ou baguettes ou outras manobras similares de modernização completamente absurdas.


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