Eu pecador vínico me confesso. Até anteontem só tinha pecado, barcavelhamente falando, por duas vezes. A primeira foi num jantar caseiro com o 1995, apelidado por muitos como o mais fraquito dos Barca Velha.Influenciado ou não por essas criticas o certo é que não me impressionou como esperava.
É preciso não esquecer que rezava o ano de 2004 (creio) e a bitola cá em casa (e em muitas casas) andava muito pelos pujantes vinhos do Douro e do Alentejo. Não é que não apreciasse a a elegância e as nuances que só certos vinhos com personalidade têm, mas é que uma loira espampanante ainda causava um certo efeito.
Depois de outro longo jejum tudo mudaria no final do ano passado quando provei o 1999, sorrateiramente numa banca da concorrência, na última Essencia do Vinho. Que vinho! fino, elegante e cheio de personalidade.
Como devem imaginar estava então em pulgas para ter a nova colheita à frente, a razão pela qual passei 5 horas metido num autocarro para chegar ao Douro. O curioso é que quando pano subiu discutia-se à mesa - no jantar que a Sogrape organizou no belíssimo hotel Casas do Coro, em Marialva - dois brancos muito curiosos produzidos casa para o Clube 1500: o Casa Ferreirinha Vinha da Capela 2008 e o mesmo vinho com estágio prolongado em barrica. Entre notas de oxidação, originalidade e ai eu prefiro o primeiro, já eu gosto mais do segundo, fez-se um certo silêncio para que o mito pudesse cair no copo e do gargalo se ouvisse o 'glu glu glu'.
Directo ao assunto sem mais descrições etilo-poéticas: um mito não é um mito só pelo nome que tem. Impressionante na cor (nem parece que tem 8 anos), a complexidade, finesse e frescura fazem deste colheita de 2004 algo de extraordinário. Não cheguei às "nuances florais de alfazema e violeta" da nota de prova oficial mas presenciei os frutos vermelhos maduros (não confundir com madurões), as notas especiadas e o final longo e complexo. Habemus papam, portanto.
Também, algo que venha de uma paisagem com esta, na Quinta da Leda, no Douro Superiror, só poderia ser bem nascido