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Piriquita, a adoçar-nos a boca desde o Século XIX

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Travesseiro_Piriquita.jpg

 

“Quer uma história diferente?”, dispara Fernando Cunha quando nos sentamos à mesa na Piriquita, a emblemática e centenária pastelaria de família, no centro da vila de Sintra. “Em 2000 prometi que se o Sporting fosse campeão faria a pé, com um tabuleiro de travesseiros às costas, os 3 Km, a subir, que distam até São Pedro”. Nesse ano, o seu clube ganharia o campeonato (após um jejum de 18 anos) e Fernando, descendente (5ª geração) da fundadora da casa Constância Gomes, cumpriu a promessa. Mais do que a distância percorrida, consta que o grande feito, dada fama deste folhado recheado com doce de ovos e amêndoa, foi não ter sofrido nenhum assalto durante o percurso. O curioso é que este best seller (de que vendem, em média, cerca de 250 unidades diárias no Verão) tem origem recente, comparado com a queijada de Sintra, o outro doce emblemático da região (e da casa), de que há referências da sua existência de 1227.

 

 

Nos anos de 1940, Constância Luísa dos Santos (neta da fundadora e avó de Fernando), encontrou num livro de família uma receita que, com um toque especial e ingredientes locais, lhe permitiu contornar a escassez de produtos, devido à Segunda Guerra Mundial. Mais do que a massa folhada, polvilhada de açúcar, o grande segredo do travesseiro da Piriquita está no recheio que ainda hoje é confeccionado apenas por duas pessoas da família. Uma delas é Leonor Cunha, que encontrámos ao visitar a cozinha e que, com os seus 85 anos, ainda passa uma boa parte do dia a supervisionar a produção. A matriarca da família diz que nunca alterou uma receita e recusa-se a baixar a qualidade para ganhar mais.

 

Este é nitidamente um negócio de mulheres. E de personalidade forte! Começou com a sua trisavó Constância Gomes, que devido à sua baixa estatura o Rei Dom Carlos alcunhou de “Piriquita”,  passou pela sua mãe Constância Luísa, que criou o travesseiro, por si, que lhe deu continuidade e, agora, também pela a neta Vera, que tem introduzido algumas novidades, sem deixar de preservar a tradição familiar. Vera Gomes não tem dúvidas da relevância de um sexto sentido feminino no negócio. Quer quando mete as mãos no recheio e vê logo “se tem a textura certa”, ou na gestão diária do pessoal. Fernando Cunha concorda. Na verdade, de momento, a sua preocupação centra-se no Sporting, e na possibilidade de poder ser campeão: “se calhar agora já não consigo levar um tabuleiro de travesseiros às costas”, remata em tom divertido.

 

Contactos:

 

Piriquita – Antiga Fábrica de Queijadas

Rua Padarias 1/7, 2710-603 Sintra ;

Horário: de 2ªF a Domingo, 9:00 - 21:00; Tel: 21 923 0626

 

Texto publicado originalmente na revista UP (Tap) | Foto: retirada do Facebook da Casa Piriquita

 

 


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