Casta de excelência da região dos Vinhos verdes, O vinhão dá origem a tintos ligeiros e ácidos apreciados, localmente, sobretudo, no acompanhamento de pratos vigorosos como os de lampreia, por exemplo. No resto do país o seu consumo é residual e percebe-se porquê: a sua ligeireza, acidez e, às vezes, algum verdor, afastam estes vinhos do consumidor médio que prefere líquidos vínicos de fruta bem madura e sem arestas.
Não vou estar aqui agora com beijinhos e declarações de amor pois nunca fui um adepto incontestável da casta, excepto, num passado não muito distante, alguém a maquilhava bem ao ponto de lhe retirar, em certa parte, o carácter - por isso não conta.
Acontece que aqui há umas semanas, no Café Tati, na prova, "Mosto do Mosto II", sob a batuta de Os Goliardos, que reuniu uma serie de produtores de vinhos naturais (ou próximos desta filosofia), provei o Quinta da Palmirinha 2016 (sem sulfitos adicionados) e fiquei muito bem impressionado com o vinho: tinha a frescura e a acidez características da casta, mas uma elegância e complexidade que nunca tinha visto e que segundo Fernando Paiva, que o produz em regime de agricultura biodinâmica, tal se deve à excelência do ano que fez com que as uva tenham alcançado uma maturação perfeita que não é muito comum na região.
Também sabia que o Tiago Teles, que produz uma série de vinhos de que muito gosto, do mais conhecido Gilda ao “Verde” (loureiro) Raiz, tinha feito, precisamente, um Raiz Vinhão, em 2015. “Ah e tal que belo vinho (só tem 12.5º) para beber agora ao almoço a acompanhar uma língua de vaca estufada”, disse esta manhã para os meus botões. De facto, 2015 não é 2016, porém este vinhão, descomprometido mas fino e com personalidade, está de beber, beber e beber. Com língua, sem língua e também com um queijo de cabra marchou que foi um mimo.
Aguardo a chegada deles aos Goliardos, quer este Raiz, quer o da Quinta da Palmirinha 2016, que, segundo o produtor, não sabia ainda ao certo se não iria todo para o estrangeiro onde a aceitação do que produz sem adição de sulfitos tem enorme aceitação, num determinado nicho de mercado. Para já na lista à venda no site de Os Goliardos não há nenhum Raiz mas há o Palmirinha 2014 e 2015, tal como um 2015 do Aphros, de Vasco Croft, que segundo me recordo são mais difíceis. Coincidência (ou não), há dias, numa visita à garrafeira Estado de Alma, comprei um vinhão de Anselmo Mendes precisamente deste elogiado ano de 2016. Ainda não o abri, mas está para breve.