Talvez a localização mais resguardada o tenha protegido dos holofotes, logo que abriu. “Se quer ser um dos primeiros a jantar n'O Watt, eis que chega, por fim, a oportunidade. Excepcionalmente, esta sexta e sábado, receberemos 75 pessoas em cada uma destas duas noites”, anunciava no passado dia 6 de Julho, o Chef Kiko na sua página do Facebook.
Os chamados soft openings são fundamentais para afinar a máquina mas a ânsia pela novidade (quer por parte da imprensa, quer por parte do público) é enorme, e por mais que tentem controlar é sempre uma pretensão inútil, que o diga ele e a sua equipa que levaram uma “grande tareia”, segundo as suas próprias palavras, nos primeiros dias do Surf&Turf, no Mercado da Ribeira.
Já deu para perceber que O Watt é o tão esperado restaurante de Kiko Martins no novo e moderno edifício da EDP. Porém, ao contrário de todos os outros projectos, que são propriedade do chefe, O Watt (tal como A Cafetaria, instalada na cave deste mesmo edifício) é um restaurante que surge em parceria entre as duas partes. A EDP construiu, desenhou e equipou o espaço. Kiko Martins, coordenou, definiu o conceito, colocou o pessoal (e algum equipamento) e paga uma renda.
O Espaço
Vasto, bem desenhado e decorado com tons sóbrios, com elegância, um toque retro e sem luxos “bling”, pelo atelier do designer britânico Jasper Morrison, o Watt, é um restaurante acolhedor (sobretudo quando está bem composto) que acomoda tranquilamente mais de uma centena de pessoas. Para já as reservas estão limitadas a 75 pessoas.
O conceito
Para este espaço, Kiko Martins definiu uma carta cujo conceito anda à volta da sustentabilidade, da energia e de uma cozinha mais saudável, mas sem radicalismos. Por exemplo, não há fritos e a ideia é usar mais gorduras como o azeite, em detrimento da banha ou até mesmo da manteiga. De igual modo, nas sobremesas, está à partida vedada a utilização de açúcar refinado.
A carta e o chefe residente
Posto, isto e depois de provar uma série de pratos, dá para topar à distância a marca de Kiko Martins. Ou seja, espere-se uma cozinha com criatividade (umas propostas mais originais do que outras), confecções com muitos ingredientes (e aqui incluo temperos) e sabores do mundo. Como acontece nos outros restaurantes, há sempre um prato emblemático das outras casas do chefe bem como diversas ideias já vistas por lá – n’ O Talho, n’A Cevicheria ou n’ O Asiático. Porém, não se trata de baralhar e voltar a dar, como acontece, por exemplo, no seu espaço do Mercado da Ribeira. Não há pretensões a estrelas e afins - o posicionamento em termos de preço é semelhante aos seus outros restaurantes - mas carta parece-me apelativa, quer para um cliente gastronomicamente mais exigente, quer para um público mais preocupado com uma alimentação saudável, que vai além das sementes de chia e do abacate. A proposta também me pareceu congruente com o DNA do chefe e com o conceito que propõe, sem querer puxar muitas bandeiras.
burrata com tomate bio ( o fruto em várias textura e a sua água)
cogumelos e couve-flor
camarão indiano em folha de bananeira (e lentilhas)
espetada de polvo à galega (e cevadinha com os sabores da paella)
Barra energética d' O Watt (barra de coco, pistacio, tâmaras e gelatina de laranja
Açaí e gaspacho de frutos vermelhos
abacaxi, iogurte e pinhão
Nestes primeiros momentos, o próprio Kiko Martins vai andar por lá. Porém, como acontece já há algum tempo, os seus restaurantes estão estruturados com chefias de confiança para não dependerem de si no dia-a-dia, à hora do serviço. Quer isto dizer que depois caberá ao chefe executivo, o austríaco Martin Schreiner (que faz parte da equipa do grupo já há alguns anos), a voz de comando.
Contactos:
Edifício Sede EDP, Avenida 24 de Julho, 12 ( Cais do Sodré – Santos), Lisboa . Tel: 21 1369504
Horários: Até Setembro - de Segunda a Domingo, ao almoço e Sexta e Sábado ao jantar. A partir de Setembro: Segunda a Domingo, almoços e jantares.
Fotos: fachada e interiores, Francisco Rivotti / as dos pratos, Miguel Pires