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Projecto português Fruta Feia apresentado no MAD

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Decorre desde ontem (e até hoje) em Copenhaga o MAD4, um encontro entre pensadores livres, entre pessoas do mundo da gastronomia e intervenientes da sociedade civil (como descrevi aqui no ano passado) e que é provavelmente o evento gastronómico mais interessante do momento. Não pude estar presente nesta edição, cujo o tema versa sobre "o que é cozinhar" (What is cooking?) e que tem a curadoria de Alex Atala, mas tenho acompanhado o eco que chega através das redes sociais. E esta manhã, pela primeira vez, houve um português (ou neste caso, uma portuguesa) em palco. Coube a Isabel Soares, engenheira ambiental, abrir o segundo dia para apresentar o seu projecto "Fruta Feia". O nível das apresentações neste evento tem sido elevado e variado e, a ver pelas reacções que recolhi no Instagram, a receptividade à apresentação da portuguesa foi grande... 

 

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O Fruta Feia - que conquistou o 2º lugar no concurso FAZ – Ideias de Origem Portuguesa (IOP), instituído pela Gulbenkian e pela  Cotec  - é um projecto que visa reduzir o desperdício alimentar através do aproveitamento e distribuição de produtos hortícolas que embora em perfeito estado de consumo iam para o lixo, ou para alimentação animal, porque não se encaixam nas normas e padrões de beleza da grande distribuição. Desde finais de 2013, segundo os dados apresentados, esta cooperativa, que trabalha directamente com 32 produtores e que vende a custos baixos aos seus 420 associados, já evitou o desperdício de 41 toneladas. Para ficar a saber mais sobre o projecto aconselho a ler estes dois óptimos artigos publicados no Público e no New York Times

 

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MAD Symposium em Copenhaga

 


Seis restaurantes de Lisboa e Algarve, segundo Xavier Agulló, no site espanhol 7 Canibales

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Muito interessante, com "ganas" e a um ritmo acelerado, esta reportagem de Xavier Agulló na revista digital espanhola 7 Canibales, a propósito da visita relâmpago que fez a Portugal (sul) com Roser Torras, a nova presidente do juri do World 50 Best Restaurants para península Ibérica. Tive o prazer de os acompanhar ao longo dos 4 dias de visita (+ 1), com passagens pelo Feitoria, Fortaleza do Guincho, Belcanto, Cervejaria da Esquina, Ocean, Vila Joya - e com um quinto dia extra já no sul de Espanha, em Puerto de Santa Maria, no incrível Aponiente, de Ángel Léon. 

 

Não vou adiantar muito sobre as impressões de nuestros hermanos até porque elas são evidente no texto de Agulló. Adianto apenas que foi com grande regozijo que fui registando a opinião muito positiva de ambos sobre os restaurantes visitados nesta curta estadia (há outra prometida para conhecer o norte). Esse regozijo foi tanto maior por serem dois globe-trotters que conhecem muito bem os restaurantes de topo de Espanha e de muitos outros países. 

 

Em resumo deixo algumas palavras do jornalista catalão retiradas do artigo:

 

Feitoria: "Ya hemos advertido que hay “manos”… La coquinaria de Joao es de acabados delicados. (...)Cocción impecable, sensaciones sinfónicas, cosmopolitismo bien entendu" ;

 

Fortaleza do Guincho: "Entendamos de entrada, pues, que estamos ante una cocina de base francesa fascinada por el producto marino portugués y, con el último chef, con una mirada más heterodoxa. Y todo, en un entorno de lujo remoto, envolvente, el mar por todos lados" 

 

Belcanto: "José, que estuvo muy inspirado por la revolución española (Ferran, claro –estuvo allí un tiempo-, Dacosta…), avanza cada día más en una línea que, sin renunciara aquella filosofía, va personalizándose y concretándose."

 

Cervejaria da Esquina: "Cervecería a todos los efectos, sí, pero con una hermosa barra llena de mar… Ostras, almejas, navajas, lapas (excelentes en textura) y buey de mar preparado (con tino, sin mayonesas)"

 

Ocean: "Morena de Sagres (la piel secada al sol, especialidad del Algarve que descubrimos Ángel y yo en la taberna de André, en Lisboa) y encima rape y salsa del hígado de la morena. Caña, tío. Mar muy acanallado. Titilan las velas y la noche sonríe plácidamente. Canelón crujiente de cabeza de escórpora con alioli. Navaja con algas. Buey de mar, tartare de percebes, gelée de pepino. Espectacular presentación… Los snacks, hermano. Llega el pan de sardinas (pescado de culto aquí), perdón, con sardinas… Puro rock duro kraut." (...) "Te digo… Un dos estrellas cierto que siguein progress."

 

Vila Joya: "Aquí lucen Dieter Koschina (sin olvidar a su aguerrido segundo, Matteo Ferrantino) y su cocina claramente contemporánea (nº 22 en 50 Best Restaurants y dos Michelin). Dieter es un tipo al que, más allá del glamour y elcelebreteo, le gusta cocinar. Estar en la cocina. Ejercer. Su unión con Matteo, además, ha sido virtuosa. Y el menú, lo vas a ver, es apabullante…"

 

... E sobre os vinhos que, com excepção de um ou outro champanhe, foram todos portugueses: 

 

Quinta do Perdigão Encruzado Dão 2013 (Fortaleza do Guincho): "Intensidad, aires tropicales, melón, lima profunda, flores… Éste será el principio de una fascinación creciente por algunos vinos portugueses"; Condessa de Santar Encruzado, Dão (Ocean): "Cítricos en la mente y el cielo rompiéndose en el círculo de Oswald"; Quinta da Pedra Alvarinho: "Refinado, muy mineral, flores… Un espectáculo". Primus, Dão, 2009: "Mineralidad, frutas, leves maderas… Otro must". Mirabilis Quinta Nova, Douro 2011: "frutos negros, opulencia… Un lujazo"; Moscatel Roxo de Setúbal Horacio Simoes single oak: "(una barrica a la que le da el sol dos horas al día a través de un agujero inopinado). 25 años aguardándonos. Extravagante acidez, equilibrio, hermanos".

 

Ler o artigo completo de Xavier Agulló, no 7 Canibales, aqui

 

Duas pérolas destas num só dia é demais!

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Foto Daqui
"Nous demandons l'interdiction de juger, de mettre des commentaires diffamatoires, des jugements subjectifs sur les personnes ou tout membre des équipes de nos restaurants."

(Exigimos aproibição de julgar,da colocação de comentários difamatórios, de julgamentos subjetivossobre pessoasouqualquer membro das equipasdenossos restaurantes).

Da petição "Non aux avis insultants envers les restaurateurs", lançada em França e assinada no momento em que escrevo por 1762 pessoas.

 

"I said that food blogs are to gastronomy what pedophiles are to love." - Fulvio Pierangelini no MAD4

(Achei tão inacreditável que fui confirmar... e parece que disse mesmo isto).

 

Que há muitos chefes que não gostam de blogs de comida toda a gente sabe. Mas chegar a este ponto é demais...e muito triste.

 

Há blogs muito bons e há blogs muito maus. Não fugindo da escrita sobre comida, há artigos sobre gastronomia muito bons na imprensa e há artigos muito maus. Qual é a diferença?

 

Ética... existe (ou não) em todo o lado. Cada caso é um caso...

 

Poder de encaixe para aceitar críticas, é um atributo muito útil na vida. Liberdade de expressão, um direito pelo qual é importante lutar.

 

Porque é que os chefes devem ser protegidos de críticas? Porque é que os "food bloggers" são uma ameaça tão detestável?

 

Inacreditável!

Cinco belas recordações do Verão

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Aproveitei a calma do Verão, em que as solicitações profissionais diminuem substancialmente, para ir conhecer alguns dos restaurantes novos que vão surgindo em Lisboa, e ainda para revisitar alguns onde não ia há algum tempo, e fiquei surpreendido com o que encontrei. Nem tudo é perfeito, longe disso, mas fiquei impressionado com a criatividade e a atitude de restaurantes como o Leopold e o Boi-Cavalo, a consistência de projectos novos como o do Minibar ou de outros mais “antigos” como o De Castro (Praça das Flores) ou O Talho. Também houve desilusões noutros casos, mas sobre esses não vou por agora falar. Talvez nunca fale.
O Leopold foi o que mais me empolgou. Fica numa zona encantadora em Alfama (São Cristóvão), é uma antiga padaria de tamanho mínimo, onde caberão no máximo umas 12 pessoas sentadas, e apenas duas pessoas a trabalhar, o chefe de si mesmo Tiago Feio (na foto) e a sua mulher a atender às mesas. Decorado com bom gosto, usando magníficas loiças das Caldas, mantiveram o belo balcão e como equipamento há apenas um forno, uma Roner e umas placas eléctricas, nada de fogões e fumos, porque o espaço não dá para isso.
Conheci o espaço no interessante circuito gastronómico (Taste of Lisboa) que Filipa Valente organiza na zona e é precisamente no Leopold que ele terminou, com uma original e deliciosa sobremesa de cerejas (era época) que me deu imediata vontade de lá voltar. Tive então uma pequena conversa com Tiago Feio e fiquei a saber que era do Porto, tinha 31 anos e que chegara tarde à profissão, trabalhando primeiro no extinto Buhle (Porto) e depois em Lisboa, no Largo, com Miguel Castro e Silva. Mais tarde, tendo-me encontrado com este chefe portuense, perguntei-lhe sobre o ex-membro da sua equipa e ele só teve palavras de elogio, o que reforçou a vontade de voltar ao Leopold para uma refeição completa.
O Leopold engana pelo nome, que nos faz julgar que ali se pratica alguma cozinha belga ou austríaca, mas pelo que percebi trata-se apenas de uma referência ao museu vienense assim denominado e que tem direito a um poster nas paredes do restaurante de que o casal proprietário muito gosta…Mistérios à parte, o que interessa é que o que falta no Leopold de espaço, equipa e equipamentos sobra de criatividade e até de um certo saudável atrevimento, hoje difícil de encontrar em cozinheiros portugueses da mesma geração, que parecem obcecados por projectos gastronomicamente desinteressantes, cujo principal objectivo é “fazer dinheiro” a curto prazo.
Não vou entrar em detalhes sobre o que comi, nem no Leopold nem nos outros restaurantes, porque não fui com o intuito de fazer uma “crítica”, não levei bloco de notas e já se passou algum tempo e muitos outros jantares…Ficam impressões gerais, como a harmonia dos ingredientes, a exactidão de temperos e pontos de cozedura, a forte aposta no mundo vegetal, quase toda oriunda de um produtor biológico da zona da Arrábida (por uma vez, não vinham da Quinta do Poial). Tiago Feio, aliás, diria depois que, nesse sentido, se sente influenciado pela actual cozinha nórdica, o que ficou bem patente num dos pratos que mais gostei, com pequenas legumes “enterrados” num solo comestível (na foto), à boa maneira do Noma (e já agora do célebre “bosque animado” de Quique Dacosta) ou no contraste da beterraba com o bacalhau a baixa temperatura (na foto), este com influência do nosso “mestre” Miguel Castro e Silva, em  apontamentos vegetais sempre consequentes como a excelente carne com que termina o menu (na foto).
Foi um jantar esplêndido, em que só me lembro de não ter gostado de um prato, ainda mais interessante pelas condições em que é preparado, com uma utilização inteligentíssima das novas técnicas, a mostrar que com imaginação e gosto pelo risco se consegue ir muito longe. Nessa noite, o pequeno restaurante estava cheio, o que não é difícil, situação que creio ser comum, tanto mais que a zona é procurada por turistas que apreciam este tipo de propostas alternativas. Será isso suficiente para viabilizar economicamente o restaurante? Estará Tiago Feio a preparar-se para outros voos em casas de maior dimensão? Não sei, se calhar nem ele saberá, mas ficou-me a alegria daquela refeição, de encontrar em Portugal gente que foge ao choradinho da crise e da falta de massa crítica e escolhe fazer a cozinha em que acredita. Saí do restaurante com a imediata vontade de lá voltar, ainda mais porque fica em 30 euros ou menos por pessoa. (Rua de São Cristóvão, 27, tel. 21 8861697, só jantares durante a semana, o dia todo aos fins de semana, fecha à segunda-feira).

A mesma sensação tive-a também não longe dali, no Boi-Cavalo, outro novo restaurante de Alfama, desta vez instalado num antigo talho, também de pequeno tamanho, embora com mais mesas e espaço do que o Leopold. À frente da casa estão dois cozinheiros, Pedro Duarte e Hugo Brito, que já trabalharam com Ljubomir Stanisic. A Paulina Mata já fez aqui no Mesa Marcada uma boa descrição, por isso não me vou alongar. 
Foi outro jantar que me proporcionou muita alegria, embora um pouco confuso por culpa nossa, os cinco comensais, que decidimos partilhar todos os pratos entre nós, quando eles, quando muito, dariam para duas pessoas. Mesmo assim, de novo imaginação à solta, boa técnica, atitude, boas vibrações. Até as bochechas de porco, algo para o qual já não há pachorra nas banais petiscarias que pululam pela cidade, estavam cozinhadas de forma diferente, com uma textura mais firme. De novo bons preços e vontade de voltar. Da próxima, de caneta em riste para escrever depois com detalhe. (Rua do Vigário, 70 B, tel. 21 8871653, só jantares, fecha à segunda-feira).

 

Por falar em boas vibrações, conheço poucos projectos tão bem traçados quanto o do Talho. Passado um ano e meio da abertura, em plena crise, está sempre cheio de gente visivelmente satisfeita. Não vou escrever sobre o jantar que lá tive, porque o restaurante tem sido bastante falado, mas tenho que realçar um dos melhores pratos que comi nos últimos tempos, o borrego tandoori (na foto) com uma perfeita mistura de temperos exóticos, reunidos numa crosta em torno da carne, também ela num ponto perfeito, onde tudo se sente e nada está desequilibrado. Lentilhas soberbas, difíceis de encontrar por cá, molho de iogurte, um pequeno nan, chutney de maçã completavam este prato inesquecível. Kiko Martins poderia perfeitamente ter escolhido o caminho da facilidade da bifalhada e hamburgaria, mas mostra o seu gosto pela cozinha ao apresentar pratos como este. É dos chefes de quem mais espero em Portugal e creio que em breve ouviremos falar muito nele (não, não me estou a referir a mais uma edição da Chef’s Academy, que a RTP deve estrear agora em Setembro e em que ele é de novo um dos “professores”…). (Rua Carlos Testa, 1 B, tel. 21 3154105, fecha ao domingo).
Outro jantar decorreu no Minibar, outro caso recente de êxito estrondoso em Lisboa. Gostei muito da proposta e do excelente ritmo a que os pequenos pratos iam chegando à mesa, com coisas que já conhecia outras que eram novidades, como o "frango assado" da foto em baixo. Tudo muito bom, com aquela consistência que José Avillez tem procurado para os seus vários projectos. Pareceu-me uma certa “padronização” do estilo que o tornou célebre no Tavares e no Belcanto, o que está muito bem desde que se continue a evoluir, como julgo que está a acontecer, embora mais lentamente do que admiradores como eu gostariam. (Rua António Maria Cardoso, 58, tel, 21 1305393, só jantares, fecha ao domingo).

 

Uma palavra final para o De Castro, na Praça das Flores, de Miguel Castro e Silva, onde estive muito bem, a jantar numa noite de Verão, neste magnífico recanto da cidade. É quase impossível eu não gostar de algo que tenha o dedo deste chefe portuense que em boa hora decidiu vir para perto de nós, lisboetas. Apesar de ser mais conhecido actualmente pelo seu trabalho no Largo, pareceu-me que este é o “seu” restaurante (aliás, quem chefia a cozinha é o seu genro, e a mulher e a filha costumam estar na sala), onde encontramos o seu estilo despojado mas sempre impecável na escolha de produtos portugueses e na maneira como os trata. Um lugar onde se vai com a segurança de encontrar sempre uma boa refeição, o que não é dizer pouco. (Rua Marcos Portugal, 1, tel. 21 5903077, fecha domingo ao jantar e à segunda-feira).
São lugares como estes, com os seus diversos estilos, que me fazem crer que Lisboa, ao contrário do que por vezes parece, está a mexer em termos gastronómicos e que há chefes que gostam realmente mais de cozinha do que de dinheiro e de espuma mediática. Alguns talvez durem pouco, talvez evoluam para outros formatos, mas deixam marca enquanto existirem e a nós, felizes comensais, belas recordações de Verão à mesa.

 

Fotografias: Cristina Gomes

E se as melhores sardinhas forem as de Setembro?

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É em Junho começa normalmente a loucura dos aficionados por sardinhas. Juntam-se a fome e a vontade de comer, que é como quem diz: os meses de espera com os dias quentes ao ar livre, impulsionados por arraiais e festas populares, um pouco por todo o país. 

 

Ao contrário do que por vezes se diz há sardinhas todo o ano. Contudo, é no Verão quando estão gordas que são mais saborosas. E este ano tivemos boa sardinha cedo, pelos santos populares, o que cada vez menos acontece dado que as alterações climáticas estão a empurrar a sua época mais para a frente. Porém, apesar de ter começado a consumi-las cedo, desde que as vi com bom aspecto nas vitrines dos restaurantes ou na banca da Açucena Veloso (no Mercado 31 de Janeiro ao Saldanha, Lisboa) foi por estes primeiros dias de Setembro que comprei, preparei e comi as melhores sardinhas do ano. 

 

Muitas apreciadores deste peixe, de sabor único e nutricionalmente rico, lamentam o facto de não as cozinharem por lhes empestarem a casa. Porém, isso não tem de acontecer. Por exemplo, eu asso-as no forno e o aroma que fica é baixo. Quando estou em dia de menor esforço limito-me a colocá-las inteiras (com vísceras e tudo) num recipiente, com sal e um fio de azeite e levo-as ao forno por 15 minutos. 

 

 

Porém, com estas bem formosas de Setembro filetei-as antes de as assar no forno, com o mesmo tempero, em cima de uma grelha e com um tabuleiro por baixo para aparar a gordura que largam. Optei por fazer este corte, em vez de assá-las inteiras porque, além de terem um bom porte, ao descartar o excesso de gordura (e as vísceras) evito ainda mais a pulverização do aroma no exterior. Gosto ainda de lhe dar uma queimadela por cima, com o maçarico, para obter um sabor mais característico, o que não aconteceu desta vez por não estar operacional.

 

O acompanhamento foi o tradicional: batata cozida e salada de tomate. Só faltou o pimento assado.

 

Agora ide, que elas ainda andam por aí. Frescas e boas. 

 

 

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Sardinhas de costeletas ou filetes de sardinha

Produtos bio nas escolas: Um capricho de país rico. Ou talvez não

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Em época de regresso às aulas publicação aqui este texto que escrevi, em Abril, na revista 2 do Público

 

Será possível, em tempos de austeridade, apostar numa alimentação nas escolas públicas tendo como preocupação critérios como a produção biológica e a sustentabilidade, além dos rácios nutricionais e de saúde publica? Como fazê-lo sem aumentar os orçamentos disponíveis? E como conquistar os alunos?

 

Em cidades como Copenhaga, na Dinamarca, ou Malmö, na Suécia, há um objectivo concreto para que as refeições públicas, nomeadamente nas escolas, recorram cada vez mais a produtos de origem biológica. Um capricho de país rico, dirão alguns. Mas nestes países também se fala de crise e os orçamentos não esticam.

 

Em Copenhaga há um ambicioso projecto de reconversão de uma zona da cidade historicamente ligada à indústria da alimentação. O Eat District pretende integrar nessa área uma série de valências, como hortas urbanas, produção de refeições públicas e actividades para crianças e profissionais, todas com uma orientação “bio”. Um dos pilares do projecto é a KBH MadHus (Casa da Comida de Copenhaga), que inclui uma área de formação do pessoal de cozinha, responsável pela produção de quatro mil a cinco mil refeições diárias para escolas, com enfoque no seu aspecto apelativo e produzidas com ingredientes sazonais, maioritariamente de origem biológica (75%). A MadHus inclui ainda uma área equipada com cozinhas e dirigida aos alunos das escolas, onde se desenvolvem diariamente actividades que visam transmitir uma cultura associada à gastronomia, à alimentação saudável e à sustentabilidade.

 

Anne-Brigitte Agger é directora da MadHus e diz-nos que teve de lutar para que a conversão bio fosse possível. É que, embora as autoridades municipais tenham definido como objectivo ter 90% das refeições públicas confeccionadas com produtos biológicos até 2015 (num país que já de si tem uma das maiores quotas de consumo nesta área, de 72%, de acordo com uma sondagem em 2012 da FiBL-Ami, que reúne dados governamentais e do sector privado), a mudança teria de ser feita com as mesmas verbas.

 

A mera substituição de produtos de origem convencional por outros biológicos aumentava o orçamento em 20-35% e não alterava por aí além o que ia no prato — que não era de grande fama. Era preciso ir mais além: converter ementas mas também mentalidades (e nisso modificar certos princípios, como, por exemplo, a redução de proteínas de origem animal e a inclusão de mais produtos hortofrutícolas sazonais). Na MadHus, onde trabalham 35 pessoas — educadores, chefes de cozinha, nutricionistas, gestores de produção, designers, profissionais de comunicação —, a motivação é elevada porque os resultados têm sido animadores: da péssima imagem e aceitação das refeições públicas que levava a que não mais de 2% dos alunos comessem nas cantinas, passou-se para 20% em menos de quatro anos e o objectivo a curto prazo é chegar aos 35%.

 

Projectos como o de Copenhaga, ainda que com metas diferentes, têm sido aplicados nos sistemas de refeições públicas de outros países, ou de outras cidades principais, como Nova Iorque, Roma ou Londres. Em Lisboa, visitámos duas escolas e falámos com diversos especialistas que se têm dedicado ao tema. A aceitação da comida nos refeitórios das nossas escolas públicas não é tão má como na capital dinamarquesa, mas a atenção das autoridades nos aspectos nutricionais e de higiene, por um lado, e economicistas, por outro, está longe de ser suficiente para cativar os alunos, sobretudo, os adolescentes.

 

Já passa das 13h e na cantina da Escola Básica Parque Silva Porto, em Benfica, prepara-se a mudança de turno. Os alunos da pré-primária terminam o almoço e, dentro de momentos, entrarão os mais velhos, do 1.º ciclo. O prato principal é igual para uns e para outros: arroz de peixe com alface. O procedimento não deverá variar muito nas outras escolas do ensino básico e jardins-de-infância da capital, sob a alçada da autarquia, variando apenas no tipo de refeições fornecidas, consoante as especificidade de cada escola (se têm ou não cozinha, por exemplo).

 

Alexandra Veiga, da Uniself, empresa que fornece uma boa parte das escolas do primeiro ciclo em Lisboa e também esta em Benfica, diz que “douradinhos, tesourinhos (pelos desenhos), hambúrgueres, frango assado e bolonhesa” são os pratos que mais agradam aos alunos. E os menos? “Salada de peixe e arroz de peixe.” Este último é o prato do dia e, digamos, para “castigo” não está mal. Não é necessário persuadir os alunos a ingeri-los, “ainda que estes os considerem desagradáveis”, como consta no artigo n.º27 do caderno de encargos, o documento definido pela Câmara Municipal de Lisboa que especifica as regras que os fornecedores têm de cumprir.

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Peixe contra pizza

 

Talvez porque nesse dia houvesse animação teatral, ou porque as actividades do recreio abriram o apetite, ou porque, simplesmente, lhes soube bem. Peço para provar. O aspecto está longe de ser fantástico, mas os olhos não desdenham. E ainda menos o nariz, ou as papilas gustativas que parecem aprovar o prato. Pelos vistos, é possível dar sabor a um cozinhado feito com pescada congelada e delícias do mar. Como? “Faço um puxadinho com cebola, alho e azeite”, revela-nos Fernanda, com um sorriso discreto. No fundo, o procedimento não é diferente do que faria em casa qualquer mãe com os mesmos ingredientes e uma boa mão para a cozinha. A diferença é que em casa pode-se fazer alguma batota, dado que não se tem de responder perante os critérios nutricionais e as capitações estipulados no caderno de encargos.

Por serem crianças pequenas de 1.º ciclo, estes alunos não têm, como acontece numa escola secundária e de 2.º e 3.º ciclos, acesso facilitado ao exterior. Para os mais velhos (ou mais novos com autorização dos pais), o negócio de cafés nas redondezas das escolas está facilitado.

 

Nas proximidades da EB 2,3 Marquesa de Alorna, vizinha à Mesquita de Lisboa, existem vários cafés. Pelos cartazes afixados nas montras e no interior destes estabelecimentos dá para perceber o público alvo. Num oferece-se “sopa + panado + Coca-Cola” por “2,50€”; noutro publicita-se: “3€ de gomas, oferta de uma pulseira” e uma “Happy-Hour – Bolos e Salgados, só 0,60€”. Perguntamos num dos cafés o que sai mais: “Depende para onde estão virados, mas, sobretudo, pizzas e folhados”, responde a empregada. Mudam-se as idades, mas nem por isso as preferências. Mesmo numa hamburgueria da moda, uns metros mais abaixo, há um menu estudante por 5,5 euros, menos de metade do preço de um menu gourmet normal. Mas pela frequência exclusivamente adulta o alvo são mais os estudantes universitários.

 

 

 

Queríamos saber um pouco mais sobre os gostos e motivações dos alunos e como são as refeições servidas no refeitório daquela escola, mas a direcção do Agrupamento da Marquesa da Alorna recusou.

 

Já na Escola Vergílio Ferreira, em Carnide — reabilitada em 2011 pela Parque Escolar —, aproxima-se a hora do almoço e reina a tranquilidade. Não se vêem alunos a vaguear pelos corredores, nem paredes pichadas, ou papéis no chão. É uma escola frequentada na maioria por alunos filhos da classe média e média alta dos bairros adjacentes de Benfica, Carnide e Telheiras, e, nas palavras da directora, Maria Manuela Esperança, “uma escola exemplar”.

O período de almoço vai das 12h às 14h30, mas até às 13h30 vêem-se poucos alunos no refeitório (foto de abertura) . Mesmo na hora de ponta, em que se forma uma pequena fila, a capacidade do espaço mostra ser muito maior do que a procura. Segundo Maria Manuela Esperança, serão pouco mais de uma centena de estudantes a frequentar diariamente o refeitório, o que representa menos de 10% do total de alunos da escola.

 

Nota-se que houve algum cuidado em dar um ar mais informal à sala de refeições, ao agruparem as mesas em pequenas ilhas em vez de o fazerem em filas contínuas, e ao criarem, também, uma pequena esplanada no exterior. Tirando essa particularidade, tem o aspecto daquilo que é: um refeitório. Novo, arejado, com boa luz natural e limpo, mas... um refeitório — tão apelativo como um copo de água.

 

Pelas 12h30, apenas duas ou três “ilhas” estão ocupadas. A ementa semanal está fixada num dos quadros de parede e segue as regras definidas no caderno de encargos, a partir de uma lista de alimentos e de capitações definidas pela Direcção-Geral de Educação. Com uma ou outra excepção, inclui sempre uma sopa de vegetais frescos, tendo por base batata, legumes ou leguminosas; um prato de carne ou de peixe (com acompanhamento), em dias alternados; uma salada com legumes crus ou cozidos; e, de sobremesa, fruta da época. Uma vez por semana pode haver um doce tipo gelatina, arroz-doce ou pudim. A água é a única bebida autorizada e o pão deve ser de mistura.

 

O prato do dia é de carne. Menos mal, porque “a carne é boa”, mas o peixe “é mau”, refere-nos Marta, uma das adolescentes que almoçam todos os dias no refeitório, porque a mãe a “obriga”. Se a deixassem (e não engordasse) “comia sempre no McDonald’s”. Já para Mariana o problema não é o peixe em si, que diz “adorar” e comer em casa, mas sim o que “servem na escola”. Têm 14 e 15 anos, mas os seus gostos e preferências alimentares não andam muito longe dos alunos mais novos.

 

Na escola de Benfica, as crianças terminaram agora a refeição. Para Maria, de dez anos, “salsichas com arroz e ovo mexido” é o seu prato favorito do refeitório. E fora da escola? “Pizza. Comia todos os dias, se me deixassem.” Já quanto à sopa, o habitual, mas com direito a ressalva, não vá a cozinheira ficar melindrada: “De sopa gosto menos. Em geral, não apenas na escola.” De aspecto franzino, Duarte, de nove anos, com algum esforço lá diz que gosta de “massa com carne”. Quanto ao que gosta menos: “Quase tudo o resto.” Perguntamos a um agitado António, de nove anos, se comeu tudo e se foi dos que repetiram (houve quem o fizesse). “Comi mas não gostei. Por isso não repeti. Não sou grande fã de peixe.” António gosta mais de hambúrgueres e até come legumes, mas não gosta de frutos do mar. Fora da escola as suas preferências vão também para a pizza. E, na escola, o que é gostava que houvesse? “Pizza”, pois claro.

Segurança a preço baixo

 

Todos as matérias-primas que entram na cozinha desta escola, bem como o seu manuseamento, respeitam as normas higiene da HACCP (sigla anglo-saxónica, que traduzida significa Análise de Perigos e Pontos de Controlo Críticos). Os ingredientes estão devidamente separados e acondicionados em atmosferas próprias: mercearias secas, numa divisão; frutas e legumes, noutra; carnes e peixes, em arcas congeladoras. A Uniself privilegia a produção nacional, como pudemos verificar pelos rótulos. No entanto, não há lugar para produtos biológicos. “As nossas necessidades são superiores à produção bio existente”, refere Alexandra Veiga, sem contudo deixar de admitir que o preço é igualmente um entrave.

 

A utilização deste tipo de produtos está prevista, “preferencialmente”, no caderno de encargos da CML, para as hortofrutícolas. Ou até mesmo para todo o tipo de produtos, se alguma escola o solicitar — esta possibilidade, que tem de ser fornecida pelo mesmo preço, enquadra-se no item “outras ementas” (junto com a vegetariana), no mesmo artigo que considera também a disponibilidade de ementas étnicas e para festividades (Natal, Carnaval, Páscoa, etc).

Todavia, a sua não obrigatoriedade faz com que essa posição seja mais do foro do “politicamente correcto” do que uma vontade política expressa, como acontece em Copenhaga. Talvez mais surpreendente, num país virado para o mar, seja o facto de o peixe (que tal como a carne vem congelado), não ser proveniente da costa portuguesa, pelo menos com regularidade. “Tentamos junto dos nossos fornecedores que isso seja possível, mas é difícil”, diz a funcionária da Uniself.

 

Na Escola Vergílio Ferreira, sob a alçada da DGEstE (Direcção-Geral dos Estabelecimentos Escolares), os procedimentos são idênticos. Segundo um responsável da Gertal, a empresa que fornece as refeições, as principais preocupações centram-se na “segurança alimentar e no cumprimento dos rácios nutricionais”. A empresa diz preocupar-se, “sempre que possível”, em comprar produtos nacionais. No entanto, como a sua aquisição está concentrada numa central de compras, é possível que uma escola do Algarve possa ser abastecida com laranjas do Minho, se estas forem mais baratas, mesmo que este seja um fruto de reconhecida qualidade na região.

 

Se as práticas de sustentabilidade são mais numa óptica nacional do que regional, no que diz respeito aos produtos biológicos, estes dificilmente têm lugar no cabaz. Novamente a questão do preço e do fornecimento parecem ser as razões dessa ausência. E se a lei não o obriga, nem sequer sugere... (numa busca às 187 páginas que compõem o Caderno de Encargos de 2013 da DGEstE, termos como “sustentável” ou “biológico” não têm uma única referência).

A larga maioria das refeições da população escolar do ensino básico e secundário do país são fornecidas por empresas especializadas, como a Uniself e a Gestal. Esta parece ser uma fórmula em que todos ficam a ganhar. O Estado, os municípios, as empresas e as escolas. Os primeiros, porque fixam as regras e apenas têm de fornecer os espaços equipados (no caso das escolas que têm cozinha) e pagar, passando para as empresas a responsabilidade com a logística, pessoal e alimentos. Por sua vez, as empresas têm de cumprir as regras pelo preço mais baixo e tirar daí o seu lucro, o que face aos 1,5 euros que o Estado, ou os municípios, lhes pagam, por refeição, só acontece com uma grande economia de escala. Por último, para os estabelecimentos de ensino é menos uma preocupação que têm. Basta-lhes ir monitorizando o cumprimento das regras.

 

Se nas escolas básicas do 1.º ciclo, como as de Lisboa, em que a maior parte dos alunos permanecem a maior parte do dia, a frequência das cantinas é elevada (90%, segundo números do município), nas do ensino secundário, como a Vergílio Ferreira, são menos de 10% os alunos que ali comem. É verdade que parte deles pode ou prefere fazer essa refeição em casa — ou porque moram perto e a estrutura familiar o permite, ou porque há dias em que só têm aulas de manhã ou de tarde. Contudo, “é muito pouca gente”, admite a directora da escola, que se resigna com um “sempre assim foi”. Continua a haver um estigma associado às cantinas e o foco no aspecto economicista, na segurança alimentar e na alimentação saudável, por parte das autoridades nacionais, deixa de fora o aspecto da atractividade e causas que os jovens normalmente até apoiam com facilidade, como a sustentabilidade ou o biológico. O certo é que, em geral, a comida servida não é atraente, e, tendo autorização para sair, é mais cool ir com os colegas ao café, onde se pode consumir à vontade os produtos proibidos na escola, a preços baixos.

 

Ainda que possa não ser intencional, a verdade é que o Estado acaba por poupar com os níveis baixos de frequência, já que o preço cobrado aos alunos varia entre 0 e 1,46 euros, consoante o escalão social em que estes se encontrem — já para não falar nas receitas do IVA e outros impostos que arrecada por cada folhado ou hambúrguer consumido pelos estudantes no exterior da escola. Contudo, em termos de saúde pública, este “desvio” pode ter consequências mais onerosas.

 

O envolvimento das comunidades locais e de equipas multidisciplinares (escolas, encarregados de educação, professores, nutricionistas, investigadores sociais, alunos...) é uma das soluções apontadas pelos especialistas. Segundo Pedro Graça, coordenador do PNAPAS — Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável (da Direcção-Geral da Saúde), pode haver uma maior relação de proximidade. “As escolas possuem autonomia para ter projectos de consumo de produtos locais.” No entanto, para o responsável, “quem tem de dar o pontapé são as comunidades locais”. “Este é o ponto de viragem”, diz.

 

Rosa Sousa, doutoranda do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-UL), que apresentou recentemente o trabalho “Alimentação Pública e Desenvolvimento Sustentável – o caso das escolas”, além de referir que as plataformas de compras deveriam ser mais flexíveis, aponta para o aproveitamento dos espaços verdes das próprias escolas para a produção de alimentos. “Algumas já o fazem, por iniciativa própria ou através de programas como o Eco-hortas da escola. Os alimentos poderiam ser utilizados nas cantinas, para além das mais-valias, em termos educativos, que poderão assumir.” A investigadora, que é igualmente professora do ensino básico, reforça o mesmo argumento do coordenador do PNAPAS: “É fundamental que todo o processo de reforma alimentar envolva os diversos elementos: alunos, encarregados de educação, funcionários da escola e funcionários de catering.”

No que diz respeito a critérios mais sustentáveis, nomeadamente a introdução de produtos biológicos na alimentação escolar, Rosa Sousa conta que “existem diversas recomendações comunitárias para a promoção de compras ecológicas ao nível das instituições” e adianta que “no sector alimentar público, concretamente nas escolas, uma reforma alimentar implica uma inclusão de critérios ecológicos nos cadernos de encargos do fornecimento de refeições, e acções que promovam a alimentação no seu todo”. Para a investigadora, “trata-se de pensar no valor do alimento de uma forma holística e não apenas na questão nutricional”.

 

Pedro Graça adianta que há uma “orientação” nos regimes escolares nesse sentido. Contudo, embora não o afirme explicitamente, dá a entender que não é uma prioridade, sobretudo, nos tempos que correm.

 

Para Mónica Truninger, socióloga no ICS, a austeridade é uma falsa questão, que “nada tem que ver com a introdução de produtos de agricultura biológica ou produtos locais”. Para esta investigadora, doutorada pela Universidade de Manchester, com uma tese sobre o consumo e o mercado dos produtos de agricultura biológica em Portugal, particularmente na cidade de Lisboa, “é tudo uma questão de criatividade e de sinergias com os produtores”. Ambas as especialistas concordam que a definição de quotas progressivas na introdução de produtos biológicos seria uma solução para criar uma dinâmica, de modo a que o mercado se ajustasse. É que uma das queixas dos fornecedores de refeições escolares prende-se com a escassez da oferta.

 

Quanto às questões dos custos, Mónica Truninger dá como exemplo as experiências realizadas no Norte da Europa, nomeadamente em Copenhaga, “onde a introdução dos produtos bio é tão ou mais barata que os convencionais”. Rosa Sousa sugere mesmo, como contraponto ao factor preço, que se faça uma aposta na “criatividade das ementas, na selecção dos produtos e na elaboração das refeições” e aponta como exemplo concreto o caso da capital dinamarquesa da “substituição periódica de carne por outras fontes proteicas”.

 

Ângelo Rocha, da Associação Interprofissional para a Agricultura Biológica (Interbio), assume que estes produtos têm um custo superior aos convencionais. Mas duram mais tempo. “Quando o critério é o preço, há imenso desperdício. Porque vai o mais rasca. O bio é mais caro mas tem mais aproveitamento.” Mas para Ângelo Rocha há ainda outra questão: a de saber o peso do custo das matérias primas no total de todos os outros custos (logística, pessoal...). “Se calhar, o custo final no prato não é superior a 15%”, face a outro confeccionado com produtos convencionais. “Será que não vale a pena, pelo que o Estado pode poupar no futuro em termos de saúde?”, deixa no ar.

 

Luta contra o desperdício

 

Mónica Truninger alerta para a importância de envolver os alunos nas decisões e dá o exemplo de Itália, onde há comissões de acompanhamento em que os alunos são chamados a pronunciar-se “sobre as coisas que menos gostam e as que mais gostam” nas ementas. “E não, não pedem rebuçados e gomas como refeição principal ao almoço”, diz. A razão prende-se com o facto de “estarem envolvidos no sistema e sentirem que a sua voz é tida em conta, por isso recebem com maior facilidade a introdução de alimentos saudáveis”. Truninger refere ainda a realização de workshops “em que os alunos se familiarizam com novos legumes, frutas, peixe, etc”. Esta participação faz com que os alunos se sintam responsáveis pelo que lhes é servido e ajudam a estabelecer também “uma relação de cuidado com a alimentação e o corpo”. Deste modo, conclui a socióloga, “aceitam melhor as mudanças alimentares realizadas na escola”.

 

A questão da atractividade da comida servida nos refeitórios é relevante. Contudo, Mónica Truninger refere que “não chega mudar a estética dos pratos” e que este exemplo de Itália, tal como o de Copenhaga, poderia ser seguido por cá. “É preciso educar o gosto com actividades que passam pela educação alimentar na sala de aula, por workshops de experimentação de novos alimentos, de hortas pedagógicas para aprender a ligar-se com a terra, com os alimentos e a sua origem, com o prazer de estar à mesa, e não apenas acções centradas na disciplina nutricional do corpo. Comer é prazer!”

 

Para Rosa Sousa, este aspecto pode servir ainda como uma arma para diminuir o desperdício. A criação de ementas escolares mais saborosas, que apelem aos sentidos, até o visual, “poderá incentivar o consumo de alimentos mais saudáveis e reduzir o desperdício”. Segundo números da DGEestE, citados pela investigadora, “entre Setembro 2012 e Janeiro de 2013, foram desperdiçadas 230 mil refeições apenas em cantinas concessionadas”. Estes números referem-se às senhas de refeição que os alunos adquirem e depois não consomem. “Isto significa que algo está a falhar.”

 

 

A esplanada do café Santiago, junto à Escola Vergílio Ferreira, está cheia de estudantes que aproveitam os raios de sol e as temperaturas amenas de uma Primavera antecipada. Nas mesas há coca-colas, batatas fritas, cachorros quentes e respectivos molhos (mostarda, maionese e ketchup). Lá dentro, uma aluna acaba de pedir um folhado e quando lhe perguntamos se costuma frequentar o refeitório, a resposta sai automática: “A comida da escola não presta. Nunca lá como.” Mas se nunca vai, como sabe? “Comi uma vez”, menciona, antes de dar mais uma dentada no folhado e sair em direcção ao sol.    

 

Aprenda a fazer soba (ou acompanhe apenas o ritmo)

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Nunca percebi porque é que num país devoto de sopas nunca pegou a moda do ramen ou de outros pratos de massas orientais (sem ser a versão fast food de centro comercial). O soba é uma massa fina de de trigo sarraceno (buckwheat) que tanto pode ser preparada e servida fria como quente. Neste vídeo, que é o primeiro do MAD 4 a ser disponibilizado, o mestre Tatsuru Rai, chef do restaurante Rakuichi Soba, em Hokkaido, Japão, prepara artesanalmente (e em silêncio - apenas com alguns comentários de Rene Redzepi) esta massa, cujo uma boa parte da produção do cereal que lhe dá origem vem precisamente da sua região.

 

A semelhança entre os movimentos do mestre e os de um bailarino de uma peça de Pina Bausch são pura coincidência. Uma nota final: celíacos, paleolíticos e glúten free freaks: podem ver este vídeo porque tal como o trigo sarraceno não contem glúten.

 

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"Petiscos da Esquina", o novo livro de Vítor Sobral

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photo 1.JPGFoi apresentado esta quarta-feira, na Cervejaria da Esquina, o novo livro de Vítor Sobral "Petiscos da Esquina", que reune um conjunto de receitas de pratos e fotos da sua veia petisqueira cuidada e dos seus restaurantes - 5 neste momento (com um sexto a caminho) em 3 países e em 3 continentes diferentes: Portugal, Brasil e Angola. 

 

Como refere Edgardo Pacheco no prefácio, "há cinco anos, Sobral foi o primeiro cozinheiro de renome a criar uma tasca moderna de petiscos. (...) Hoje qual é o bairro de Lisboa ou do Porto que não tem tascas, tabernas ou casas de pasto finas?". Tudo começou, portanto, em 2009 com a Tasca da Esquina, em Campo de Ourique a que se seguiu, no mesmo bairro lisboeta, a Cervejaria da Esquina. Depois foi a vez de levar a Tasca para São Paulo (Brasil) e, mais recentemente, para João Pessoa (Paraíba, Brasil) e Luanda (Angola), aqui com o nome Kitanda da Esquina. Para breve está a abertura em São Paulo da Taberna da Esquina um conceito ainda mais petisqueiro e informal.

 

Quem conhece o chefe português sabe que defende a gastronomia e a portugalidade com unhas e dentes. Por vezes até é demasiado faccioso mas, tal como quando se fala do clube do coração, ninguém leva a mal. Contudo Sobral não se fecha num facciosismo bacoco e desde que começou a viajar pelo Brasil (foi o primeiro cozinheiro português a fazê-lo com regularidade) que alguns produtos e sabores tropicais passaram a fazer parte do seu leque de ingredientes, tal como acontece agora com sabores angolanos, ainda que em menor escala. A este propósito, Edgardo Pacheco refere, no mesmo texto, que Vítor Sobral tem um dom que herdou de família "e com esse dom, anda a desenvolver a sua cozinha da lusofonia, que o mesmo é dizer anda a dar aos clientes de Lisboa pratos com notas de sabores brasileiros e africanos; aos clientes de São Paulo e João Pessoa toda a nossa riqueza e a de Angola e ao de Luanda coisas de cá e do Brasil". Não se trata de prosa romântica do Edgardo, pois eu mesmo já vi apreenderem a Sobral, no aeroporto de São Paulo, uma mala cheia de enchidos e queijos portugueses. Mas vamos ao livro...

 

"Petiscos da Esquina" reúne 63 receitas divididas por cinco capítulos, cujos títulos dispensam explicação: Frio, Natural, Quente e a Ferver. São "Petiscos para todos os contextos", lê-se no final do texto de introdução. Além das receitas, o livro, de capa mole e formato prático (17 x 24cm), destaca-se pelo seu visual: da  paginação ao design sóbrio mas actual (de Maria Manuel Lacerda da 386 design), passando pela qualidade de impressão e, sobretudo, pelo óptimo trabalho fotográfico da Lemmonier Foto (de Nicholas Lemmonier) e de food stylist dos cúmplices e sócios de Sobral (e que ele muito bem elogia no livro) Hugo Nascimento e Luís Espadana. 

 

Contudo, este livro não se livra de um mal comum na edição deste tipo de obras em Portugal. As receitas são simples e descomplicadas, o que permite que o livro chegue a um público mais abrangente. Contudo, falta precisão a algumas receitas (um assunto que a Paulina Mata abordou em tempos aqui). A sensação que fica é que há falta de editores especializados que saibam olhar para uma receita e para as necessidades de um público entusiasta, por certo, mas não profissional.

 

Por exemplo, logo na primeira receita, "Alhada de Camarão" diz-se para salgar o camarão "sem casca e só com a cauda, durante 6 horas", mas não se diz se depois o mesmo deve ser lavado ou não. Se não diz, parte-se do principio que não, é certo. Contudo, como há produtos que são lavados depois da salga, não ficava mal ser mais preciso. Outro exemplo: na segunda receita, "Anchovas, queijo de Minas grelhado e orégãos", é legítimo partir do princípio que se a mesma envolve um queijo brasileiro, então a anchova seria fresca (embora menos comum por cá, existe muito no Brasil), até porque a receita só refere "120 gramas de anchova em filete". Claro, quer pela quantidade, quer pela foto da página seguinte, rapidamente cheguei à conclusão de que se trata de anchova de conserva (ou semi-conserva). Contudo, mais uma vez, não custava nada ser preciso.

 

Estes pormenores não retiram brilho a este livro (até porque podem facilmente retocados numa segunda edição), nem a minha recomendação como  obrigatório para fãs e não fãs de Sobral que passam a ter à mão uma série de petiscos com uma apresentação cuidada e combinações a preceito e sem resíduos de banalidades ou seguidismos. É que se há pouco tempo "O Livro das Sanduíches", de Hugo Nascimento, vinha com uma sobrecapa branca apenas com a inscrição #chegadehambúrgueres, este livro de Vítor Sobral deveria trazer uma, também,  com a menção: #jáchegadetapas

 


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"Petiscos da Esquina", de Vítor Sobral; Casa das Letras, 212 páginas. Preço: 18,90€


Instantâneos do Instagram

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Do mesmo chefe pasteleiro que teve diariamente à sua porta, em Nova Iorque, filas e filas de pessoas para comer uma das suas invenções, o cronut.

Hoje já ganhei o dia...

Rota das Estrelas em Lisboa com oito chefes convidados

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A Rota das Estrelas faz mais uma vez escala em Lisboa para, amanhã e no sábado, proporcionar dois jantares, cada um da autoria de quatro chefes diferentes, que têm em comum o local, o restaurante Feitoria, do hotel Altis Belém, o respectivo chefe, João Rodrigues (na foto, de divulgação) e o preço, 195 euros por pessoa, com tudo incluído, vinhos e um cocktail no terraço do hotel, mesmo sobre o Tejo. Para quem vier de fora de Lisboa e quiser ficar ali hospedado, há condições especiais.


Esta interessante e já habitual iniciativa anual, quase minifestivais gastronómicos, que possibilita também um maior contacto entre chefes portugueses de diferentes pontos do País e com outros do estrangeiro, trará a Lisboa, para o jantar de amanhã, Miguel Laffan, do L’And, de Montemor-o-Novo, Vitor Matos, do Largo do Paço, de Amarante, Benoît Sinthon, do Il Gallo d’Oro, do Funchal, e Jacqueline Pfeiffer, do Le Ciel, de Viena. No sábado, será a vez de Miguel Rocha Vieira, do Costes, de Budapeste, Michel van der Kroft, do Nonnetje, de Harderwijk (Holanda), Yves Le Lay, do Alexander, em Pädaste Manor , na ilha de Muhu (Estónia), e Vincent Farges, da Fortaleza do Guincho.


Uma boa oportunidade, portanto, para conhecer estilos e cozinhas diferentes, umas mais próximas outras mais distantes, mas certamente com um nível elevado e um ambiente muito agradável e hospitaleiro. Vamos ver como corre. Reservas: tel. 210 400 208,
reservationsbelem@altishotels.com

Uma montra em que (quase) tudo nos é muito familiar.

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Abriu recentemente em Londres, no Soho, um restaurante pop-up que não tem cozinha, apenas serve conservas de peixe, com pão, salada... Não foi a originalidade do conceito que me chamou a atenção, que por cá já surgiu há algum tempo e até serviu de inspiração a este, como é referido no artigo " The idea came after they discovered a tiny restaurant in Lisbon serving only tinned seafood.". O que me chamou a atenção mesmo foi esta foto da montra. Ora vejam lá se não é tudo muito familiar:

 Ambas as fotos DAQUI

Ver um filme depois de ler o livro...

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Imagem DAQUI

Quando há diz vi esta imagem lembrei-me logo da minha recente ida ao cinema ver "A Viagem dos Cem Passos".
Li o livro há três anos e, como disse na altura, "adorei ser levada numa aventura que começa em Bombaim e termina em Paris, que trata de grandes paixões pela cozinha, da busca desesperada por estrelas Michelin, de dramas associados à alteração das classificações de alguns restaurantes, e que curiosamente envolve uma manifestação de 25000 pessoas ligadas à restauração, em Paris, devido ao aumento do IVA".
Fui ver o filme nos primeiros dias, não podia mesmo esperar mais. E... a imagem diz tudo. Um filme simpático, que se vê bem, que buscou inspiração nalgumas partes do livro. Essas... no livro são bem diferente e mais interessantes. Faltam todas as outras. E o que falta é mesmo muito!
Ver o filme teve uma coisa boa: Motivou-me para ler o livro de novo.
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"O chefe está?"

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Há dois anos, comecei a colaborar com a revista Comer, publicada pelas Edições do Gosto, numa rubrica que decidimos intitular "Questões de Gosto", onde falo com intervenientes do mundo da restauração, sobretudo chefes de cozinha, jornalistas, bloggers, críticos e gastrónomos, abordando assuntos bem concretos para quem se interessa pelo tema. Aqui fica o primeiro desses artigos, esperando que compreendam que alguns dos dados enunciados ficaram entretanto desactualizados. 

 

É uma equação cada vez mais difícil de resolver nos chamados “restaurantes de topo”, seja em Portugal seja noutros países. Por um lado, as receitas geradas por estes restaurantes raramente são suficientes para pagarem os altos custos que implicam, a começar pelo arrendamento em locais centrais das grandes cidades, as equipas de cozinha e sala, produtos de qualidade, equipamentos sofisticados e mobiliário de luxo, serviços de mesa, copos, caves climatizadas de vinhos e tudo o que implica posicionar um restaurante no mundo da “alta cozinha”. Resultado, o chefe é obrigado a ir buscar fora do restaurante que lhe dá fama outros proventos que lhe garantam a subsistência. Por outro lado, temos os clientes que vão a estes restaurantes, muitas vezes atraídos por chefes mediáticos, e não os encontram por lá, ficando com a sensação de que a experiência ficou incompleta ou até atribuindo eventuais falhas na cozinha a esta ausência.


Como é que se resolve este problema, se é que ele tem solução? Fomos falar com alguns chefes portugueses para saber como lidam com ele, para arrumar melhor as ideias sobre este assunto.


“Tivemos que nos adaptar à vida moderna da restauração e a verdade é que um só restaurante não gera receitas suficientes. Quem disser o contrário, não está a ser honesto”, afirma Vítor Sobral, que neste momento detém a Tasca da Esquina e a Cervejaria da Esquina, em Lisboa, uma outra Tasca da Esquina, em São Paulo, e ainda é consultor do Luanda Grill, em Luanda, que abriu há poucos meses. Para este que é um dos mais mediáticos chefes portugueses, ter segundos restaurantes, consultorias, caterings, promover produtos, fazer publicidade, livros ou programas de televisão, são actividades quase obrigatórias para quem quiser sobreviver no mundo da restauração de topo.


“Os clientes deste tipo de restaurantes são muito mais exigentes e nós não podemos falhar. Mesmo que paguem 30 ou 35 euros, o preço médio na Tasca da Esquina, se o peixe estiver fora do ponto, se o vinho não vier à temperatura certa, é suficiente para nos castigarem. É o preço que pagamos pela notoriedade”, explica Vítor Sobral.


Para outro chefe bastante mediático, Rui Paula, à frente dos restaurantes DOC, em Armamar (à beira do Douro), DOP, no Porto, e do hotel Palace do Vidago, esse exigente “olhar dos clientes” sobre o seu trabalho está também muito presente. “Há clientes que só marcam mesa quando sabem que eu vou estar no restaurante, outros dizem que as coisas não correram bem porque eu não estava num determinado dia…Mas eu não me queixo, é mesmo assim quando damos a cara pelos nossos restaurantes”, considera o chefe portuense, que sublinha a diferença de atitude quando se cozinha mediante um ordenado pago por um proprietário ou quando, como é o seu caso, o cozinheiro é também dono do restaurante.


Mas essa atitude será assim tão diferente? Ricardo Costa sempre trabalhou para outros, estando neste momento a chefiar o The Yeatman, no hotel de mesmo nome em Vila Nova de Gaia, onde conquistou no ano passado uma estrela Michelin. “Normalmente, apesar de ter várias solicitações para estar noutros lugares, sobretudo com a participação no programa Top Chef, da RTP, estou sempre no restaurante. Faz toda a diferença. Controlamos melhor o que sai, corrigimos os erros, participamos nos momentos bons e menos bons do restaurante, sentimos directamente o que os clientes sentiram ao provar os nossos pratos”, diz, considerando normal que ter a presença do chefe, falar com ele, tirar até fotografias ao seu lado, faz parte da experiência de quem procura este tipo de restaurantes.


Esta ronda pelos chefes termina com aquele que talvez seja hoje o mais conhecido do grande público, José Avillez, que tem no Belcanto, em Lisboa, o seu “restaurante de topo”, gerindo também o Cantinho do Avillez, a pouca distância, onde se pratica uma cozinha mais simples. “Organizo-me para estar fora, n máximo, uns quatro ou cinco dias por mês, para tratar de assuntos profissionais que requerem a minha presença e sem os quais seria difícil manter o Belcanto ao nível que quero”, afirma José Avillez, que, dada a proximidade, procura ainda passar pelo Cantinho todas as noites. “Não é que não confie na minha equipa, pelo contrário. Acho que se um chefe sabe que sem ele as coisas não correm bem, nunca, mesmo nunca, pode estar ausente. Nesse caso, é preferível fechar o restaurante nos dias em que não pode estar, o que não é o meu caso”.


Sabendo da sua notoriedade, Avillez faz questão de ir às mesas para falar com os clientes, atitude que partilha com Rui Paula. “Às vezes custa, porque estou muito cansado e a regra é, quando se vai a uma mesa, vai-se a todas, para nenhum cliente achar que o estamos a tratar com menos consideração”, sublinha José Avillez. Já Ricardo Costa, só raramente vai à sala. “Prefiro que venham à cozinha, para ver onde trabalhamos e falar mais à vontade”, diz. Para Vítor Sobral, o facto do seus actuais restaurantes serem mais “descontraídos”, com a cozinha aberta sobre a sala, não justifica a visita às mesas, a não ser por solicitação expressa de um cliente ou no caso de ser alguém que conhece bem. “Mas não há dúvida que nesses casos vale a pena. Não só os clientes ficam mais dispostos a perdoar eventuais falhas como se vende mais. No Brasil, por exemplo, é frequente pedirem-me directamente conselhos sobre o que vão comer e o que vão beber”. Aqui está mais uma boa razão para os chefes procurarem estar presentes nos restaurantes a que dão nome.

 

Publicado originalmente na edição de Setembro/Outubro de 2012 da revista Comer

Guia Michelin GB & I 2015 sem grandes novidades

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Pode parecer piada referir que não houve grandes novidades na edição do Guia Michelin do Reino Unido que acaba de sair, quando há 14 novos restaurantes com uma estrela. Contudo, sendo Londres uma das melhores e mais estimulantes cidades em termos de restaurantes seria expectável mais novidades. Mas não. Não há novos 3 estrelas a acrescentar aos quatro existentes, nem novos 2 estrelas a adicionar aos 21 da lista. 

 

Portanto a novidade está mesmo nos novos 1 estrela: 

 

Fera at Claridges - Mayfair
Gymkhana - Mayfair
Clove Club - Shoreditch
Barrafina - Soho
Outlaw's Fish Kitchen - Port Isaac, Cornwall
Treby Arms - Devon
Isle of Eriska - Scotland
Three Chimneys and The House
over-By - Isle of Skye
Ynyshir Hall - Wales
Crown at Whitebrook - Wales
City Social - City of London
Kitchen Table at Bubbledogs - Bloomsbury
Cross at Kenilworth - Kenilworth
Star Inn - Harome, North Yorkshire

 

Entre os contemplados destacaria talvez o The Clove Club (na zona leste de Londres) de Isaac McHalle (na foto), um dos chefes emergentes de que mais se tem falado nos últimos anos. O outro destaque vai para Simon Rogan que não alcançou a terceira no L'Enclume (que há muito se falava) mas que ganha uma estrela no Fera at Claridges (Londres), menos de 5 meses após a abertura deste seu restaurante. 

 

 

3 Estrelas Michelin 

Fat Duck - Bray
Waterside Inn - Bray
Gordon Ramsay - Chelsea
Alain Ducasse at The Dorchester - Mayfair
 
2 Estrelas Michelin  


Midsummer House - Cambridge
Gidleigh Park - Chagford - Devon
Le Champignon Sauvage - Cheltenham
Whatley Manor (The Dining Room) - Wiltshire
Hand and Flowers - Marlow
Restaurant Sat Bains - Nottingham
Le Manoir aux Quat'Saisons - Oxford/Great Milton
Restaurant Nathan Outlaw - Cornwall
Andrew Fairlie at Gleneagles - Auchterarder
Patrick Guilbaud - Dublin
The Ledbury - North Kensington
Marcus Wareing at The Berkeley - Belgravia
Le Gavroche - Mayfair
Hélène Darroze at The Connaught  - Mayfair
Hibiscus - Mayfair
Square - Mayfair
L'Enclume - Grange-over-Sands/Cartmel
Michael Wignall at The Latymer (at Pennyhill Park Hotel) - Surrey
Sketch (The Lecture Room & Library) - Mayfair
Dinner by Heston Blumenthal (Mandarin Oriental Hyde Park Hotel) - Westminster
The Greenhouse - Mayfair
 
One Michelin Star
 
L'Atelier de Joël Robuchon - Strand & Covent Garden
Fischer's at Baslow Hall - Baslow, Derbyshire
The Park (at Lucknam Park Hotel) - Bath/Colerne    
The Terrace (at Montagu Arms Hotel) - Beaulieu
Pipe and Glass Inn - Beverley/Yorks
West House - Biddenden, Kent
Fraiche - Birkenhead
Purnell's - Birmingham
Simpsons - Birmingham
Turners - Birmingham
Northcote - Blackburn/Langho
Morston Hall - Morston/Norfolk
Curlew - Bodiam/East Sussex
Lords of the Manor - Gloucestershire
Royal Oak - Bray
Casamia - Bristol
Manor House H. and Golf Club - Wiltshire
Simon Radley at The Chester Grosvenor - Chester
Pony & Trap - Chew Magna/Bath
Sir Charles Napier - Chinnor/Buckinghamshire
Apicius - Cranbrook/Kent
Ockenden Manor - Cuckfield/West Sussex
Sienna - Dorchester/Dorset
Butchers Arms - Eldersfield/Worcestershire
The Pass - Horsham/West Sussex
The Neptune  - Hunstanton/Norfolk
Box Tree - Ilkley/West Yorkshire
Ocean at the Atlantic - Jersey
Bohemia (at Club Hotel and Spa) - Jersey
Tassili (at Grand Hotel) - Jersey
The Stagg Inn - Herefordshire
Mr Underhill's at Dinham Weir - Ludlow/Shropshire
Harrow at Little Bedwyn - Marlborough/Wiltshire
Nut Tree - Murcott/Oxfordshire
Hambleton Hall - Rutland
Black Swan - Oldstead/North Yorks
Yorke Arms - Ramsgill-in-Nidderdale/North Yorks
JSW - Petersfield/Hampshire
Driftwood - Portscatho/Cornwall
L'Ortolan - Reading/Shinfield
Drake's - Ripley/ Surrey
Old Vicarage - Sheffield
Masons Arms - South Molton/Knowstone/Devon
Room in the Elephant - Torquay
The Sportsman - Whitstable/Kent
5 North St - Winchcombe/Gloucs
The Black Rat - Winchester/Hampshire
Paris House - Woburn/Bedfordshire
Glenapp Castle - Ballantrae/South Ayrshire
Martin Wishart at Loch Lomond - Balloch/West Dunbartonshire
Braidwoods - Dalry/North Ayrshire
Castle Terrace - Edinburgh
Number One (at Balmoral Hotel) - Edinburgh
Kitchin Edinbugh/Leith - Edinburgh
Martin Wishart Edinburgh/Leith - Edinburgh
Sangster's - Elie/Fife
Albannach - Lochinver/Highlands
Boath House - Nairn/ Highlands
Peat Inn - Fife
Knockinaam Lodge - Portpatrick/Dumfries & Galloway
Kinloch Lodge - Isle of Skye
Walnut Tree - Abergavenny/Llanddewi Skirrid/Monmouthshire
Tyddyn Llan - Llandrillo Denbighshire
The Checkers - Montgomery/Monmouthshire
House (at Cliff House Hotel) - Waterford
Chapter One - Dublin
L'Ecrivain - Dublin
Thornton's (at The Fitzwilliam Hotel) - Dublin
Bon Appétit - Malahide/Dublin
Hakkasan Hanway Place - Bloomsbury
Pied à Terre - Bloomsbury
Club Gascon - City of London
Harwood Arms - Fulham
River Café  - Hammersmith
La Trompette - Chiswick
St John - Clerkenwell
Rasoi - Chelsea
Kitchen W8 - Kensington
The Glasshouse - Kew
Galvin La Chapelle - Spitalfields
Chez Bruce - Wandsworth
Amaya Belgravia - Westminster
Pétrus - Belgravia
Benares - Mayfair
Galvin at Windows (at London Hilton Hotel) - Mayfair
Hakkasan Mayfair - Mayfair
Kai - Mayfair
Maze - Mayfair
Murano - Mayfair
Pollen Street Social - Mayfair
Tamarind - Mayfair
Umu - Mayfair
Wild Honey - Mayfair
L'Autre Pied - Regent's Park & Marylebone
Locanda Locatelli - Regent's Park & Marylebone
Texture - Regent's Park & Marylebone
Seven Park Place (at St James's Hotel and Club) - St James's/Westminster
Arbutus - Soho
Yauatcha - Soho
Quilon - Victoria
Paul Ainsworth at Number 6 - Padstow
Alimentum – Cambridge
Raby Hunt – nr Darlington
Hedone  – Chiswick
Dabbous - Regent's Park & Marylebone
Hinds Head – Bray
St Johns Hotel – Leicester Square
Launceston Place – Kensington
Trishna - Marylebone
Alyn Williams at The Westbury  - Mayfair
The Red Lion Free House – Wiltshire
Thackerays Restaurant – Kent
Tristan – Horsham
Bath Priory - Bath
Samling - Cumbria
adam's - Birmingham
Wilks - Bristol
Ormer by Shaun Rankin - Jersey
HKK - Shoreditch
Angler - Finsbury
Story - London Bridge
Ametsa - Belgravia
Brasserie Chavot - Mayfair
Lima - Regent's Park/Marylebone
Social Eating House - Soho
Outlaw's at The Capital - Knightsbridge
L’Atelier de Joël Robuchon - Strand and Covent Garden
Fera at Claridges - Mayfair
Gymkhana - Mayfair
Clove Club - Shoreditch
Barrafina - Soho
Outlaw's Fish Kitchen - Port Isaac, Cornwall
Treby Arms - Devon
Isle of Eriska - Scotland
Three Chimneys and The House
over-By - Isle of Skye
Ynyshir Hall - Wales
Crown at Whitebrook - Wales
City Social - City of London
Kitchen Table at Bubbledogs - Bloomsbury
Cross at Kenilworth - Kenilworth
Star Inn - Harome, North Yorkshire

 


Notas soltas de Milão

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image.pngEstou em Milão para uma viagem de comboio que me levará por algumas regiões do norte do país até St. Moritz, na Suíça. Cheguei no domingo ainda a tempo de uma boa caminhada desde a Grande Central até ao Duomo, a catedral gótica que é o grande símbolo da cidade. Aqui a mistura entre assuntos religiosos (a missa regular com os seus fiéis) e comerciais (a loja com merchandising e os seus devotos japoneses) funcionam em simultâneo, no interior, com a maior naturalidade, tal como acontece quando, à porta, soldados do exército revistam, cordialmente, as mochilas dos turistas (sinais dos novos tempos).

image-1.pngEm termos gastronómicos, a temperatura amena deste inicio de Outono traz milhares de turistas e locais às ruas sedentos por um gelado cremoso, a ver pelas filas que se formam à porta das geladarias.

 

Almoço tarde num lugar central sem grande história. Junto a mim, duas adolescentes fumam cigarros uns atrás do outros entre selfies, risinhos e 'likes'. E eu vou enganando a fome com uma razoável baguete de salame e queijo aziago antes de me fazer de novo ao caminho. O destino final é o Al Pont de Ferr, um dos melhores restaurantes da cidade (1 estrela Michelin) que tem à frente o chef uruguaio Matias Perdomo. Chego à zona de Naviglio Grande, à beira de um canal, agora vazio, mas que em tempo teve água como os de Veneza. A primeira paragem, para um aperitivo (um magnifico negroni, claro!) faz-se no Rebelot um bar petiscaria que pertence aos mesmos donos do restaurante de Matias.


image-2.pngMauricio Zilio, o chef, brasileiro de São Paulo, com raízes no Porto, não me deixa sair sem provar um dos seus pratos, uns fresquissimos cubos de ventresca de atum, com uns nacos de ricotta, numa água de tomate e pepino. Não resisto ainda a experimentar a mortadela, o tomate seco, as alcachofras e... Stop, porque o jantar que se prevê loongo segue dentro de minutos na porta ao lado. Regressarei ao Rebelot na quarta-feira. Quanto ao Al Pont de Ferr, as impressões ficam para outro post.

 

Mesa Marcada no norte de Itália com o apoio da TAP

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Notas de Milão: Al Pont de Ferr (uma estrela Michelin)

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photo 1.JPGMatias Perdomo é um dos chefs emergentes de Itália, onde está há, pelo menos, 14 anos. Embora pareça ter nome italiano, na verdade, Matias é uruguaio. Com o apoio dos donos do Al Pont de Ferr, Perdomo transformou uma antiga osteria, que vendia vinho, queijo e fiambre, num local gastronómico de referência, misturando tradição e vanguarda de forma muito natural. O ambiente é bastante informal e até a Michelin se ajoelhou ao atribuir uma estrela a este restaurante de 70 lugares, que até há bem pouco tinha a casa de banho na rua.

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Matias Perdomo divide a carta entre clássicos, que regressam a cada época, e pratos novos, diferentes a cada temporada, separados em quatro áreas, de acordo com os elementos da natureza: água, terra e fogo, Ou seja: pratos maioritariamente pensados à volta de peixe, vegetais e carne.


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Há ainda outra particularidade que tem a ver com o facto de quase não haver pratos de massa, algo que se diria impensável numa osteria. Digo "quase" porque, na verdade, há, mas Perdomo trabalha-os de uma forma diferente. Por exemplo, para a puttanesca desconstrói a massa tranformando-a em pão que é cozido a vapor como um bun chinês. Há várias desconstruções do género, bem como alguns pratos "parece que é mas não é",  de puttanesca, carbonara, pistácio ou chocolate.


photo 4.JPGÉ impressionante como à hora do serviço uma equipa de apenas sete cozinheiros consegue produzir tantos pratos, muitos de grande complexidade e detalhe, para 60 serviços ao almoço e 70 a 80 ao jantar, sete dias por semana! Sobre esta refeição irei escrever com maior detalhe no próximo número da revista Wine.

 

 

Mesa Marcada no norte de Itália com o apoio da TAP

 

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O Bitto Storico e a teoria do melhor do mundo

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photo 1.JPGTemos os melhores queijos do mundo. Ou os melhores vinhos, ou o melhor... o que seja, ouvimos dizer (ou dizemos) frequentemente. Às vezes, é mais uma profissão de fé do que outra coisa. Só que eu nunca gostei de absolutismos ou de 'fezadas', até porque, muitas vezes, revelam, sobretudo, desconhecimento.


photo 3.JPGHá ainda aquela convicção de que nenhum queijo de vaca do mundo chega aos calcanhares de qualquer um dos nossos queijos de ovelha, do Serra da Estrela ao Azeitão. A verdade é que esses queijos, ou o amarelo da Beira Baixa (mas os autênticos) são de top em qualquer lado do mundo. Contudo, na vizinha Espanha também os há de grande qualidade e então em França, ou, até mesmo, em Itália nem se fala.

photo 2.JPGVem isto a propósito do Bitto Storico um queijo de vaca (alguns, os melhores, com 10% de cabra) artesanal absolutamente fantástico que comi por estes dias na província de Sondrio, na região alpina de Valtellina, no norte de Itália.

 

À falta de outras referência direi que lembra vagamente um parmesão de topo. O que provei tinha 3 anos de cura e quando coloquei na boca uma fina fatia (cortada na mandolina de madeira) e ela se derreteu com o calor do corpo, o seu impacto nas papilas gustativas foi tremendo. Potente mas elegante, lácteo, ligeiramente doce, mas também salgado... Puro umami!

 

Temos bons queijos de vaca nos Açores, em São Jorge e na Graciosa (e muitos nem lhe dão o devido valor). Contudo, como este Bitto Storico comi poucos no mundo. Mesmo assim, e apesar do entusiasmo, não vou dizer que é o melhor do mundo. Ou vou? (Claro que não, ou ainda a vaca se ri).

 

Mesa Marcada no norte de Itália com o apoio da TAP

 

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Notas de Milão: Rebelot al Pont

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Quatro dias intensos no norte de Itália para acabar em beleza no Rebelot de Al Pont, o irmão mais novo e ainda mais informal, do Al Pont de Ferr, sobre o qual escrevi há dias. Também aqui é outro sul americano, desta vez brasileiro, de São Paulo (com costela no Porto), que comanda os fogões. Maurício Zilio, de seu nome, foi um dos principais cozinheiros de Matias Perdomo e, quando decidiram abrir este bar de tapas, dois números abaixo, na mesma rua, foi ele o convidado para chutar a bola para a frente.

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No Rebelot pode-se petiscar uns enchidos e queijos, tapas e pratos de autor (pratos entre os 7€ e os 15€; menus entre 11€ e os 48€) - isto enquanto se bebe um bom vinho ou um cocktail (. Não há massas nem risotos (avisam no site), nem café, o que parece uma loucura, dado que os italianos são conservadores no que diz respeito a comida. Contudo, talvez por serem estrangeiros, Maurício acha que a tolerância que os milaneses lhes dão é maior e por isso não se esconde na hora de criar.

 

A imprensa local define o Rebelot como um restaurante italiano com um toque espanhol. Eu acrescento à definição, uma certa dose de rebeldia de neo bistrot francês, sobretudo, nos menus de degustação da semana. Aqui Maurício tem carta branca para dar azo à sua imaginação com os produtos que encontra semanalmente no mercado local (que visita às 4f de manhã com Matias). Isto sem excluir ingredientes de outras paragens. Maioritariamente italianos, claro, mas também de França, Espanha ou Brasil (de Portugal tem, sobretudo, alguns Vinhos do Porto de qualidade, embora lamente que não se vendam muito).

 

Gostei do arrojo nos 6 pratos que Maurício Zilio me deu a provar. Agradou-me a confecção elaborada, mas ao mesmo tempo simples (e sem demasiados formalismos nos empratamentos), aliada à sensibilidade nos contrastes: sabores intensos vs frescos, quente vs frio, crocante vs aveludado, doce vs ácido. Alguns pratos talvez precisem um pouco mais de desenvolvimento, mas, caramba, no estilo free styleé natural uma ou outra saída de pista - o que neste caso nem aconteceu 

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Sarrajão com iogurte, gelado de pepino, molho de ruibarbo e vermute, pistácios e ervas/flores aromáticas. Confesso que comecei por me assustar com tanta "gente" no prato, mas, na verdade, a orquestra estava afinada e houve sinfonia. Adorei a ideia do gelado de pepino a refrescar o conjunto. 

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Atum, folha de mostarda, puré de aipo bola, maçã caramelizada e em puré (verde e ácida) e morcela de arroz muito suave, pelo meio.  Houve ainda um bacalhau (na foto em que aparece o chefe) fresco e curado no restaurante, numa salmoura. Maurício serviu-o apenas com umas folhas de beterraba (aquela parte que muita gente descarta) o que acrescentou um sabor vegetal e a terra ao prato. Mais interessante ainda o molho que preparou e serviu à parte e que só juntei quando ia a meio. Era um gastrique, só que em vez de laranja, levava um tipo de pimentão doce. Alterou completamente o prato, para melhor. Mas acima de tudo o interessante foi ter podido experimentá-lo das duas maneiras 

photo 1.JPGjarrete de cordeiro, farofa com ovo e cebola queimada e curgete. À carne de sabor intenso, correspondeu bem o vegetal da curgete 

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Coxa e bombom de codorniz, cogumelos trompetas da morte, creme de castanhas e espuma de romã. Maurício trabalhou alguns tempos no Can Fabes e eu vi o fantasma de Santi Santamaria neste prato. Sobretudo no bombom, de sabor forte, elaborado com o fígado. O puré de castanhas aconchegou e a romã deu a acidez necessária. 

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Maçã campanina assada e recheada com figo, gelado de chá verde, gelatina do mesmo chá e mirtilhos. Que bela forma de despedida. Metro, Estação de comboios de Cadorna, Aeroporto de Malpensa e...Game over. Fim. Finito. 

 

Mesa Marcada no norte de Itália com o apoio da TAP

 

 

O Bitto Storico e a teoria do melhor do mundo

Notas de Milão: Al Pont de Ferr (uma estrela Michelin)

Notas soltas de Milão 

 

Leiam, imprimam e colem nos cacifros

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Ontem enquanto procurava documentar-me melhor sobre o Al Pont de Ferr, para a habitual critica gastronómica da Wine, encontrei um texto de Licia Granello do La Repubblica, sobre Maida Mercuri (na foto), proprietária do restaurante e conhecida sommelier em Itália. Diz a jornalista a determinado momento:

 

"Ela nunca entra em competição com os seus clientes. Se eles sabem sobre vinhos, está lá para os espicaçar. Se são novatos no assunto, dá-lhes a mão. E se procuram um desafio, está lá para ele. Sempre respeitando os papéis de cada um e com um discreto sorriso na face". 

 

Por favor sommeliers, ou esponsáveis na sala pelo serviço de vinhos:  imprimam este texto e colem nos cacifros.  

 

 

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