Uns dias de férias no Alentejo deram-me a oportunidade de voltar a dois restaurantes que já conhecia e onde tinha tido boas experiências – a Cadeia Quinhentista em Estremoz:
e o Tomba Lobos em Portalegre.
Gosto da cozinha alentejana, de muito do que se come e, sobretudo, do engenho que revela na transformação de produtos simples, e por vezes em número muito limitado, num conjunto de pratos muito originais, característicos e interessantes. Tenho, contudo, que reconhecer que nalguns dos restaurantes tradicionais seria importante actualizar a forma de confeção dos pratos, adaptando-a a uma época em que dispomos de bons sistemas de frio, equipamento de cozinha que permite a utilização de menos gordura e uma série de outros aspetos que tornam possível adaptar técnicas de modo a obter pratos mais leves, menos gordos e com pontos de cozedura que resultem em texturas mais agradáveis. Mas há quem o faça, mais do que isso, quem pratica uma cozinha com a marca do Alentejo, mas também com características muito próprias. É muito bom visitar espaços bonitos, extremamente agradáveis, com uma cozinha actual, em que os produtos são bem tratados e bem apresentados, e sentimos que estamos no Alentejo. De facto, os produtos são alentejanos, a cozinha é baseada nos sabores e práticas tradicionais, mas estas são adaptadas tendo em conta o conhecimento e padrões atuais para otimizar resultados, e em que além disto há uma boa dose de inovação. É o que acontece nos espaços que referi. E, embora tenham características diferentes, têm em comum o visível entusiasmo e paixão de quem é responsável pela cozinha (Alice Pola na Cadeia Quinhentista e José Júlio Vintém no Tomba Lobos).
Num jantar no restaurante Cadeia Quinhentista, em Estremoz, éramos 5 pessoas e queríamos para partilhar vários pratos. Foi assim que nos chegou à mesa:
Palete de degustação
Bacalhau lascado e Cação com amêijoas
Entre o peixe e a carne, um sorvete de limão com poejos a que se seguiu:
Perdiz com castanhas e frutos vermelhos e Medalhões de porco
E, para além de uma Marquise de Chocolate e um Manjar Celeste, estes excelentes Figos Gratinados.
Se lá forem deixem um espaço para as sobremesas, porque são sempre muito originais e mesmo muito boas!
A simpatia e vontade de nos proporcionar uma boa experiência do dono do restaurante e responsável pela sala, João Simões, são também uma contribuição importante para a experiência global.
Apetece ficar preso naquela Cadeia Quinhentista!
No Tomba Lobos ficámos nas mãos do José Júlio Vintém, que foi mandando pequenas doses. E que boas que estavam! No final, prescindimos da sobremesa para provar mais dois pratos salgados.
Couvert (azeitonas, entremeada e pimentos assados)
Flores de curgete recheadas com frango e lúcia-lima
Peixinhos da horta (crocantes, sem se sentir a gordura, perfeitos!)
Pétalas de toucinho de porco alentejano no forno (toucinho cortado muito fino, temperado com alho, cerveja e alecrim)
Esparregado de Urtigas
Carpaccio de lombo de lebre
Lombo de veado frito em gordura de foie gras
Lombo de coelho recheado com farinheira
Carne maturada 29 dias com trompetas da morte (delicioso!)
E água de Portalegre (para além do vinho).
Estas férias foi bom voltar a estes dois restaurantes onde já tinha tido muito boas refeições, foi bom ver o bom trabalho que fazem, e só espero que tenham condições para o continuar a fazer, e para evoluírem ainda mais. A cozinha em Portugal não pode prescindir de restaurantes com a qualidade destes.